O Dia de Mercado da Pecuária de Corte, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) e Sindicato Rural de Cascavel, reuniu especialistas para debater estratégias para o bom desempenho na recria animal. O evento, que fez parte da programação do Show Pecuário, realizado em Cascavel, no Oeste do Paraná, aconteceu na última terça-feira, dia 25, com a presença de centenas de produtores.
O pesquisador do Cepea Thiago Bernardino de Carvalho iniciou sua palestra com a questão “Quais os desafios do pecuarista em 2017?”. Na ocasião, Carvalho trouxe os dados coletados junto aos pecuaristas da região de Cascavel, que participaram do programa Campo Futuro, da CNA, que promove o levantamento de custos da atividade. Desde o início deste trabalho já foram acompanhadas mais de 300 fazendas em todo Brasil.
Segundo os dados, Cascavel está acima da média nacional em diversos parâmetros. No sistema de cria, por exemplo, o número de arrobas por hectare foi de 17,78, enquanto que a média brasileira é de quatro arrobas. Vale lembrar que os números levantados pela CNA não são a média da região pesquisada, mas sim um recorte da realidade encontrada.
Carvalho adiantou que “não existe receita de bolo” na atividade. “Cada um vai ter que conhecer sua propriedade para saber como obter os melhores resultados. Se vocês não conhecerem o dia a dia, os números da fazenda, vão perder dinheiro”, declarou. Além disso, é preciso projetar seu negócio para as próximas décadas. Planejando investimento e adiantando tendências de mercado para estar preparado.
Desafios
Na sequência, o pesquisador Flávio Dutra Resende, da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), apresentou uma palestra técnica trazendo os desafios tecnológicos para um bom desempenho de cria. Este tema vem sendo estudado desde 2006 na unidade de pesquisa em que atua na cidade de Colina (SP).
O especialista detalhou com riqueza de dados a importância da suplementação alimentar nas épocas de seca, das águas, no outono, e as estratégias que devem ser observadas na transição entre estas etapas. Segundo ele, com planejamento é possível construir uma carcaça apta para o mercado.
A ferramenta para este trabalho é a utilização de proteicos energéticos, proteinados e outros suplementos que, combinados com a pastagem, podem trazer ótimos resultados. “É necessário estabelecer metas, como ganho de peso. Primeiro tem que descobrir quanto custa seu pasto por mês, deve saber avaliar quanto o seu animal está ganhando de peso para verificar se está pagando o custo do pasto”, observa.
Mas não basta só desembolsar, é importante focar no manejo. Um exemplo do especialista demonstrou que o número de coxos influencia diretamente na engorda dos animais. Poucos coxos, representa mais brigas entre os animais, o mais forte come mais. “Ou seja, com o mesmo investimento em ração, você pode manejar para melhorar o rendimento”, orienta.
Em uma comparação com os produtores de grãos, Resende observa que o pecuarista não tem tradição em mapear custos, o que pode comprometer a atividade. “Tem que conhecer os pastos mês a mês, piquete por piquete. Calcule os desempenhos médios e os custos de cada piquete. A tomada de decisão muda conforme a quantidade e qualidade da sua pastagem”, atesta.
Riscos
Cesar de Castro Alves, do corpo técnico da MB Agro Consultoria, fechou o Dia de Mercado com a palestra “Mercado pecuário 2017/18: Os riscos para rentabilidade pecuária”, apontando uma previsão para o futuro próximo nos cenários econômicos brasileiro e mundial.
Na avaliação do profissional, embora a esfera política esteja conturbada, a trajetória econômica tem demonstrado que permanece firme. A manutenção das reformas estruturais iniciadas neste governo deve continuar, caso isso não ocorra, as consequências são aumento da inflação, rebaixamento da nota do Brasil no mercado internacional. As questões climáticas não devem trazer muitas surpresas, nem El Niño nem El Niña devem interferir na próxima safra verão.
Este ano a grande produção de grãos, que aumentou 27% nesta temporada, mexeu com o mercado de proteína animal. Porém, o consumo de carnes bovina e frango continua baixo, sem expectativas de grandes saltos no mercado interno. O setor de ovos e salsichas, por outro lado, experimentaram crescimento. “Isso é crise, o pessoal está deixando o frango e indo para o ovo”, avalia.
Segundo ele, este foi um ano de grandes sustos para a pecuária, principalmente por conta das delações dos dirigentes da empresa JBS. “O principal risco para o ritmo de abates no segundo semestre está relacionado com o que vai ocorrer com a JBS. Existe grande desconfiança quanto à solvência da empresa”, diz. Segundo ele, se a empresa parar de abater “não há como distribuir essa boiada no curto prazo”. Em abril o abate de bovinos caiu 20% no Brasil.
Apesar deste cenário possível, existe grandes oportunidades. O especialista aponta para restrições de produção em alguns grandes concorrentes brasileiros, como a Índia e a retenção de vacas nos Estados Unidos.
Uma janela de oportunidade foi identificada para as vendas no mercado futuro, travando agora os preços da arroba para contratos de outubro e novembro. “O jogo vai continuar, está bom para comprar bezerro. O momento é muito oportuno para fazer reposição”, pontua.
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Fonte: Sistema FAEP