Dois fatores têm influenciado positivamente a cotação da soja aqui no Brasil: o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) e a alta do dólar. O anúncio oficial realizado em fevereiro projetou uma área de 33,79 milhões de hectares para a safra 2015/16 – redução de 0,3%, contrariando os estudos das consultorias privadas que estimavam 3% de aumento no próximo plantio nos EUA.
– Para o mercado foi um motivo altista pelo curto prazo e imediatamente os contratos na Bolsa de Chicago ficaram acima de US$ 10/bushel – informa o analista de mercado, Carlos Cogo.
– Esse anúncio já reverteu uma tendência que era de baixa do preço da soja em função da entrada da safra sul-americana – reitera o analista da Agrinvest, Marcos Araújo, que prevê uma disposição de alta até o próximo relatório nos Estados Unidos em 31 de março.
O segundo fator que está jogando junto com o sojicultor brasileiro é a disparada do dólar que atingiu uma faixa próxima de R$ 3 e muitos analistas visualizam possibilidade de uma alta ainda maior.
– Hoje vale a pena segurar e especular o dólar que tem margem de aumento, desde que o produtor não tenha dívida a curto prazo – orienta Cogo.
– O sojicultor deve aproveitar para vender a produção nos momentos de pico. Por outro lado, por causa do dólar, os insumos da safra de inverno estarão mais caros e é preciso ficar atento para acertar os investimentos da lavoura futura – aconselha o presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (ACERGS), Dilermando Rostirolla.
– Se permanecer nesta faixa de R$ 60/saca a R$ 65/saca tá bom para este ano – admite o produtor Gilmar Batistela de Tapera (foto).
Nesta safra de verão a rentabilidade será acima de 50%, considerando a cotação atual e a projeção de produtividade das lavouras gaúchas. De acordo com o analista da Agrinvest, com base num custo de lavoura de R$ 2.097,34/ha, a lucratividade do produtor que conseguir obter 55 sacas/ha será de R$ 2.296,90/ha.
– O preço tá bom, vale a pena vender, pelo menos, uns 40% da produção – sugeri Araújo.
O agricultor Marco Antônio Ottoni conseguiu fechar com uma média de comercialização de R$ 66/saca na última colheita e já vendeu 20% desta safra num lote de R$ 60/saca. Agora está decidido:
– Se surgir negócio por R$ 65/saca, vamos vender tudo, não tem que esperar muita coisa – confessa.
O especialista em mercado esclarece outra dúvida de muitos agricultores neste momento: vender ou deixar armazenada a safra buscando uma elevação nos preços?
– O agricultor deve fazer a seguinte conta: o preço da soja tem que valorizar pelo menos 1,7% ao mês para compensar os custos de armazenagem, quebra técnica do produto e a valorização do dinheiro se ele aplicar esse valor com um juro financeiro de 1% ao mês – enfatiza Araújo.