Ninguém sabe ao certo como o Ceratocystis Fimbriata começou a acabar com boa parte dos pomares de kiwi em Farroupilha, assim como ainda não foi encontrada a cura para a doença provocada pelo fungo. O maior vilão dos kiwizeiros no momento chegou de maneira silenciosa e rapidamente começou a matar as plantas. Quando se deram conta de que algo atípico estava acontecendo, muitos produtores já acumulavam perdas significativas.
No ano passado, um grupo de pesquisadores começou a se articular para buscar uma solução para o problema. Encabeçada pela Embrapa Uva e Vinho, a iniciativa conta com a participação de entidades rurais, universidades gaúchas e empresas. Uma análise inicial detectou que os primeiros sintomas da doença começaram a surgir por volta de 2009. Os agricultores, no entanto, relatam que a mortandade das plantas se intensificou de cinco anos para cá e não poupou nenhum dos oito tipos de kiwi cultivados na cidade.
O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Samar Velho, que lidera os estudos, classifica a situação como “grave” e diz que a cultura corre risco de desaparecer. Velho conta que, no passado, houve registro da mesma doença em manga e eucalipto, situação que foi equacionada com melhoramento genético nessas variedades.
— A cultura do kiwi está ameaçada. A tendência é que esses pomares deixem de existir, pois ainda vai morrer muita planta. Depois a cultura poderá ressurgir, com um novo nível de tecnologia.
Para saber como o fungo surgiu na Serra, os especialistas trabalham com duas hipóteses. A primeira, tida como mais provável, é que a doença apareceu a partir do uso de mudas contaminadas vindas de São Paulo, região em que houve a incidência do Ceratocystis na manga. A segunda variável explora a possibilidade de que alguma mudança climática na Serra, na umidade ou temperatura, tenha favorecido o surgimento do fungo. Testes em pomares de diferentes produtores de Farroupilha estão sendo realizados para que se encontre a resposta.
A ação da doença
O estrago provocado pelo Ceratocystis é facilmente percebido a olho nu. Em diversos pomares farroupilhenses há um clarão entre o espaço que permanece produtivo. O fungo se caracteriza por matar rapidamente as plantas dos pomares, levando até três meses para concluir o processo. Ao tirar a casca do caule de uma planta infectada, veem-se estrias em um tom achocolatado provocadas pela ação do patógeno, conforme relata Velho.
— As estrias causam o entupimento dos vasos de xilema (tecido condutor do sistema vascular da planta), impedindo a translocação de água e minerais absorvidos do solo que são normalmente levados das raízes para a parte aérea. Com essa interrupção, ocorre a murcha da parte aérea e a planta definha até morrer.
Com o passar dos anos, a intensidade dos ataques diminuiu, devido a algumas medidas tomadas pelos produtores. Alguns agricultores optaram por refazer os pomares, tomando mais cuidados com a manutenção.
Em uma área de um hectare devastada pelo fungo, Claudino Contini decidiu fazer uma nova tentativa com a cultura do kiwi. Deixou a terra parada por dois anos, para então começar tudo do zero. Depois, comprou mudas de maior qualidade, investiu em um sistema de irrigação para os kiwizeiros e trocou a terra. Com uma retroescavadeira, puxou para cima a terra do nível mais baixo, livre de contaminação, para fazer o plantio.
A tática tem dado certo para Contini. Três anos após plantar as mudas, ainda não houve incidência da doença.
— Aqui eu vejo uma luz – comemora o agricultor, apontando para os novos pomares.
Em breve os resultados devem ser vistos por Contini em forma de fruta. A expectativa é começar a colher um volume significativo de kiwis nesta área em 2018.
Tipos de kiwi
- Bruno –É o tipo de kiwi mais conhecido na região. Tem formato alongado, a polpa verde e possui pelos. É um dos mais plantados em Farroupilha.
2. Elmwood, Hayward e Monty –Três tipos de kiwi similares. Possuem formato mais arredondado, com pelos e a polpa com coloração verde. Entre essas variedades, destaca-se o Elmwood, que, junto com o Bruno, está entre os mais cultivados no município.
3. Farroupilha, Golden King, MG06 e Yellow King – Quatro variedades de kiwi que integram um mesmo grupo. Eles não têm pelos e possuem formato arredondado. Além disso, caracterizam-se pela polpa amarela, sendo mais adocicados que as variedades de polpa verde.
Fonte: O Pioneiro