Distribuidoras de insumos agrícolas no Brasil vem recebendo investimentos nos últimos anos. São recursos de multinacionais do setor ou de fundos de investimento. Representantes desse segmento acreditam que se trata de uma tendência e que o país está seguindo um movimento mundial.
No fundo Aqua Capital, as revendedoras estão no radar há três ou quatro anos. A empresa foi criada em 2011 com dinheiro de norte-americanos, europeus e do Oriente Médio. Focada em médias empresas do agronegócio, já investiu em fertilizantes, vinhos, ração e aquicultura, gerenciando um faturamento total de R$ 3 bilhões a R$ 3,2 bilhões anuais.
- Acreditamos na tese de crescimento do agronegócio brasileiro. Investimos rápido e estamos satisfeitos – garante o diretor de negócios, Osmar Bergamaschi.
Neste mês, o Aqua Capital se tornou controlador da Agro100, distribuidora de insumos com sede em Londrina (PR) e 21 anos no mercado, um negócio do qual não revela o valor. São 24 lojas no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, além de 13 unidades de recebimento que movimentam cerca de 13,5 milhões de sacas de soja, milho e trigo por ano.
Está nos planos da empresa para os próximos anos a expansão da capacidade de recebimento, além da instalação de mais 15 unidades de atendimento. A expectativa passar do faturamento de R$ 1 bilhão registrado no ano passado para algo em torno de R$ 3 bilhões em cinco anos.
- Grandes grupos vão querer atuar no processo de distribuição ao consumidor final e as revendas vão se consolidar. Há grupos nacionais e internacionais interessados em empresas como a nossa – diz o fundador da Agro100, Walter Bussadori, que permanecerá no conselho de administração.
Não foi a primeira investida do Aqua Capital em revendas. Em 2016, a empresa entrou na Rural Brasil, que atua na distribuição de insumos e originação de grãos em Mato Grosso e Pará. Agora, com a Agro100, o fundo amplia a atuação para o Centro-Sul. Ao decidir pelo investimento, a empresa pesou o que seria mais viável: colocar dinheiro no que já existia do que tentar algo novo.
As duas distribuidoras serão independentes, mas passam a compor uma ampla plataforma de atendimento.
- É mais fácil trabalhar com empresas consolidadas, que são do mesmo segmento e que atuam em regiões geográficas diferentes, mas que podem ser complementares em tecnologia e sinergia – explica Bergamaschi, diretor do fundo.
Japoneses e indianos
Operações semelhantes vêm ganhando destaque no mercado brasileiro pelo menos desde 2012. Naquele ano, a gigante japonesa Mitsubishi fundiu-se com a Ceagro, comerciante de sementes e químicos fundada em 1995, no Maranhão. Depois de entrar, a Mitsubishi ampliou seu controle para 80%. E a Ceagro foi rebatizada de Agrex do Brasil.
Em julho de 2015, a UPL, multinacional de agroquímicos com sede na Índia, anunciou a aquisição de 40% do capital do grupo SinAgro. Na época, a empresa informou que o negócio era a oportunidade de participar de um “multifacetado sistema de distribuição de produtos e serviços”.
No mesmo ano, outro grupo japonês, o Sumitomo, anunciou a compra de 65% do capital da Agro Amazonia, também em Mato Grosso. Quando informou sobre a operação, a empresa disse que seus investimentos possibilitariam à distribuidora brasileira atingir a meta de elevar as vendas para o equivalente a US$ 500 milhões até o ano de 2019.
- A consolidação no setor de revendas é uma tendência e vai continuar, seja com fabricantes de insumos, seja com fundos de investimento – acredita Henrique Mazotini, presidente-executivo da Associação Nacional das Distribuidoras de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav). A entidade tem cerca de 1,4 mil afiliados em 400 municípios brasileiros.
A motivação vem, em parte, da união de grandes fabricantes globais de sementes e químicos, casos de Bayer e Monsanto, Syngenta e ChemChina e Dow e DuPont. Juntas, essas gigantes se fortalecem e, com o fornecimento nas mãos de menos agentes, uma mudança no posicionamento dos canais de distribuição é vista como “consequência natural”.
Outro motivador é o próprio perfil do setor de revendas de insumos no Brasil, que possui cerca de 5 mil pontos de atendimento. Representantes do setor consideram o mercado fragmentado, o que pode ser atrativo para investimentos, considerando a importância do Brasil no agronegócio global.
- O mercado enxerga o Brasil como oportunidade. A tendência é de uma mudança no modo de atendimento ao cliente. Passará da compra e venda direta no balcão para canais de atendimento, que agreguem serviços – acredita Mazotini.
Essa “fragmentação” das distribuidoras de insumos agrícolas foi um dos fatores que animou o Aqua Capital a investir no setor. A meta agora é estabelecer o plano de negócios para as revendas que adquiriu, mas não significa estar fechado a oportunidades de negócios.
O diretor de negócios do fundo, Osmar Bergamaschi, acredita que há um “sentimento muito forte” no empresariado de que as revendas tendem a se reestruturar. Para ele, o segmento deve se consolidar especialmente como ponto de entrada de investidores na agropecuária brasileira, já que esse tipo de empresa possibilita “acesso direto ao mercado”.
- É importante vender sementes, defensivos, integrar recebimento de grãos. Tudo isso torna a operação mais complexa e difícil. Para continuar a crescer e competir, precisa de investimentos – diz ele.
Governança
Tornar a empresa atrativa também é algo que, em si, requer algum investimento. Estabelecer processos de gestão e sucessão, organizar a governança corporativa e auditar balanços são iniciativas consideradas importantes para quem pretende se capitalizar no mercado.
Na Agro100, essa preparação começou em 2014. Walter Bussadori conta que os números da empresa na época eram “interessantes”, mas desorganizados. Foram contratadas consultorias para avaliação e mercado e auditoria na contabilidade. Em 2016, a governança estava estabelecida para iniciar as conversas com potenciais investidores.
- Passamos a ter uma expressão verdadeira dos números. Por melhor que seja a empresa, investidor nenhum vai se interessar se não houver confiança – resume o executivo.
Fonte: Revista Globo Rural