Os produtores de Mato Grosso começam a olhar novamente com mais atenção para a soja convencional em algumas regiões do estado. Mesmo com uma queda acentuada na área plantada nos últimos dez anos – de mais de 4 milhões de hectares para cerca de 930 mil, os agricultores visualizam um nicho de mercado que pode ser remunerador.
- Um dos principais motivos do aumento do cultivo da soja convencional na região Leste é o prêmio pago por algumas empresas, em torno de R$ 4,00 a R$ 6,00 a mais – diz Endrigo Dalcin, vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) da região Leste e produtor rural em Nova Xavantina.
O diretor financeiro da entidade e produtor rural em Diamantino, Roger Augusto Rodrigues, ressalta que outro ponto de decisão pela variedade convencional são os altos preços de royalties das cultivares transgênicas.
- O produtor começa a optar por usar a tecnologia transgênica anterior ou então a convencional por motivos financeiros – diz.
Giovana Velke, produtora rural em Campo Novo do Parecis, plantou sojaconvencional no ano passado esperando bons preços, o que não ocorreu. Nesta safra, o plantio será reduzido a 30% da área total.
- O custo da semente convencional é bem menor que o da transgênica. Porém, cuidar da lavoura exige mais dedicação e não está compensando financeiramente – avalia. A região Oeste é a que mais planta soja convencional no Estado.
Para Dalcin, com a soja convencional há a possibilidade de fazer a rotação de produtos químicos na propriedade, com diferentes princípios ativos, o que tem auxiliado no controle de plantas daninhas.
- Os produtos convencionais, que usávamos no passado, voltam a ser usados. Isso ajuda muito, pois as plantas daninhas não criam resistência ao glifosato, produto mais utilizado atualmente na soja transgênica – explica.
Além disso, as variedades convencionais que estão no mercado atualmente têm melhor resistência aos nematoides.
- Os agricultores verificam que há materiais que estão se destacando em áreas com cultivo de soja há mais de 30 anos e os nematoides já eram problema sério de produtividade – conta Endrigo Dalcin.
Essas variedades tipicamente brasileiras são desenvolvidas pela Embrapa, e deixam os produtores rurais mais seguros, argumenta Roger Augusto Rodrigues. A Aprosoja apoia o programa Soja Livre, que incentiva a produção de soja convencional por meio de aporte às pesquisas.
- Com iniciativas assim, deixamos de ser tão dependentes das multinacionais – frisa Rodrigues.
Mesmo que a soja convencional volte a ganhar espaço nas lavouras de Mato Grosso, há o problema de armazenagem.
- Não há armazéns em todas as cidades para separar a soja convencional da soja transgênica. Isso limita um pouco o crescimento – acredita Dalcin.
Fonte: Aprosoja