A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos pode abrir caminhos para negociações comerciais futuras, avaliam especialistas. Neste momento, o encontro marca a reconstrução da relação de confiança entre os dois países.
A presidente embarcou para os EUA no último sábado, e a sua visita oficial teve início hoje. A professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Raquel Rocha, diz que o encontro não deve render.
- Grandes acordos comerciais, já que a diplomacia brasileira busca reconstruir laços que foram interrompidos no passado – afirmou.
- No entanto, a visita é importante para costurar e preparar o terreno para acordos comerciais futuros. A Dilma tem se reunido com setores industriais do País com o objetivo de promover interesses do empresariado. Não à toa o Plano Nacional de Exportação foi anunciado semana passada, às vésperas da visita aos EUA. Toda comitiva que está com a presidente, como o MDIC [Ministério do Desenvolvimento] e a Apex [Agência Brasileira de Promoção das Exportações], vão trabalhar em prol da promoção comercial. A visita aos EUA pode trazer ganhos futuros de desenvolvimento econômico e mais protagonismo para o Brasil nas relações internacionais – afirma Rocha.
Na semana passada, o diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental da Casa Branca, Mark Feierstein, disse que é possível dobrar o comércio bilateral entre o Brasil e os EUA nos próximos dez anos e que, nessa visita, serão dados passos nessa direção.
Em 2014, as trocas comerciais entre as duas nações alcançaram US$ 62 bilhões.
A professora de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Fernanda Petená Magnotta, também não tem grandes expectativas com o encontro diplomático e diz que deve haver alguns avanços pontuais, como em facilitação de vistos e na área de defesa.
Além disso, são esperados anúncios como a abertura do mercado norte-americano para a carne brasileira e medidas para facilitar o comércio nos setores de cerâmica, máquinas e materiais de construção.
Vistos
Durante a visita da presidente é esperado também o anúncio da inclusão dos turistas brasileiros no programa Global Entry, que facilita a entrada de pessoas que viajam constantemente aos EUA, sobretudo, a trabalho, possibilitando que essas não passem pelas filas de imigração.
- Há, efetivamente, uma discussão em andamento sobre a participação do Brasil no programa. Porém, não sei se será possível acertar todos os detalhes técnicos – afirmou o embaixador Carlos Paranhos, sub-secretário-geral Político do Ministério de Relações Exteriores.
Infraestrutura
Está na agenda da presidente uma reunião com empresários norte-americanos para apresentar o pacote de infraestrutura anunciado no último dia 9, como forma de buscar investimentos. Para a professora da ESPM, essa é uma das pautas principais para serem negociadas com o governo de Barack Obama.
- No entanto, isso depende muito da atuação política do Brasil. Na ocasião das denúncias de espionagem, a Dilma teve um discurso muito combativo em relação aos EUA. Precisamos comprovar essa mudança de postura para que eles entrem em nossas concessões. A pauta econômica está vinculada à pauta política – opina Rocha.
Para a professora da FAAP, existem expectativas muito desalinhadas entre o Brasil e os EUA.
- O governo americano não tem tratado isso [a visita do Brasil] como uma prioridade. De um lado, o encontro tem uma mensagem positiva [de retomada de confiança], mas ao mesmo tempo não vai repercutir em medidas muito concretas, seja pelo desgaste diplomático, seja porque não existe espaço político para negociar determinadas coisas [como um acordo de comércio, por exemplo] – diz Magnotta.
- Ainda que o Obama tivesse predisposição para negociar, ele precisaria de apoio do Congresso, algo que ele não tem hoje, sem contar que já se aproxima o período das eleições dos EUA. Além disso, o país está envolvido com outras questões, como a reaproximação com Cuba e Irã. Tudo isso acaba diluindo iniciativas de negociações estratégicas – complementa ela. Dilma passará por Nova York, Washington e São Francisco.
Fonte: DCI