Uma nova grande safra de trigo na Argentina, de onde o Brasil importa a maior parte do cereal que compra no exterior, permeará as discussões nesta semana de uma missão de empresários e do governo argentino com representantes da indústria brasileira, que colocará em pauta a necessidade de uma melhora da qualidade do produto do seu principal fornecedor.
- Tem a questão da qualidade do trigo, talvez porque muito do que venderam estava estocado… Mas a qualidade do trigo caiu, e vamos falar que o Brasil tem interesse de receber, mas tem que ser um trigo de melhor qualidade – afirmou à Reuters o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa.
Segundo dados da Abitrigo, o Brasil importou pouco mais de 2,1 milhões de toneladas de janeiro a abril, sendo que 80 por cento do total veio da Argentina, que está escoando uma safra recorde estimada pelo governo em 18,4 milhões de toneladas. Para a temporada com plantio já em desenvolvimento, o governo estima uma colheita ainda maior, de cerca de 20 milhões de toneladas, disse à Reuters nesta segunda-feira uma autoridade.
De acordo com Barbosa, os setores de trigo de Brasil e Argentina estão “recuperando o tempo perdido”, após um período em que restrições às exportações impostas pelo governo argentino anterior limitaram os negócios e a produção.
Com uma maior oferta, discussões sobre qualidade que são recorrentes no setor podem ocorrer com certa tranquilidade.
- Com o fim das restrições, a safra aumentou, e ela deve ser recorde, e é importante a gente conversar com o principal fornecedor – disse o dirigente da Abitrigo.
O Brasil, um dos maiores importadores globais de trigo, deverá comprar no exterior 6,2 milhões de toneladas neste ano, ante 6,56 milhões no ano passado, segundo previsão do Ministério da Agricultura. Além da Argentina, Uruguai, Paraguai, Canadá e Estados Unidos figuram entre os exportadores do grão ao Brasil.
QUESTÃO REGULATÓRIA
Outra questão relacionada à qualidade que será discutida no encontro com os argentinos é a chamada “convergência regulatória”, disse o embaixador, lembrando que as regras da indústria do trigo e farinha do Brasil não são as mesmas de outros países do Mercosul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, que vendem o produto aos brasileiros com isenção tarifária.
O presidente da Abitrigo lembrou que o país que importa costuma colocar as suas regras. – Caso contrário, isso lá na frente pode dar problema na exportação para cá. -
Ele disse ainda que a exportação de farinha de trigo da Argentina para o Brasil, um tema que sempre preocupa os moinhos brasileiros, também estará em pauta.
- Já exportaram muita farinha… este ano está igual ao do ano passado, mas como tem muito incentivo, temos que conversar, porque isso poderá afetar negativamente a indústria no Brasil. -
A Abitrigo receberá na próxima quarta-feira, na sede da entidade, uma missão argentina integrada pelo subsecretário de Agricultura da Argentina Luis María Urriza, autoridades da Província de Buenos Aires, além de representantes do setor produtivo argentino.
Barbosa disse que o encontro visa também estreitar as relações bilaterais, abrindo caminho para que tais reuniões ocorram pelo menos uma vez por ano.
Fonte:Reuters