A situação política na Argentina deve legar o sojicultor do país a uma postura “conservadora”, com expectativa de manutenção da área plantada para a safra 2015/2016. Foi o que afirmou o diretor da consultoria Agripac, Pablo Adreani, durante o 7º Congresso Brasileiro de Soja, realizado em Florianópolis (SC). Para ele, a produção de soja do país deve ficar entre 58 e 60 milhões de toneladas.
- Estamos em ano eleitoral. A incerteza econômica é muito grande em relação à taxa de câmbio, aos juros. E a influência sobre a decisão do agricultor é muito alta. Eu acredito que 80% dos produtores não estão vendendo soja. Deve haver um maior volume de vendas no mês de julho porque o produtor tem que pagar suas dívidas – disse Adreani.
Na Argentina, o setor rural tem manifestado oposição ao governo de Cristina Kirchner. Recentemente, entidades representativas dos produtores, como a Federação Agrária Argentina (FAA) anunciaram adesão a uma paralisação geral realizada no início deste mês no país. Os produtores cobram, principalmente, mudanças nas políticas de incentivo à produção e à comercialização de commodities agrícolas.
Mais prejudicados do que a soja pela política econômica argentina estão o milho e o trigo, afirmou o consultor. De acordo com Pablo Adreani, as vendas dos dois produtos estão mais difíceis em função de decisões do governo de suspender exportações, “derrubando” o mercado interno. No caso do milho, “com pouco ânimo do produtor para semear”, a produção Argentina deve ficar entre 20 e 22 milhões de toneladas.
Em relação ao trigo, a expectativa também é de uma área plantada menor. Desta forma, a safra argentina do cereal deve variar de oito a nove milhões de toneladas. Uma situação que pode afetar o Brasil, que tem no país vizinho um importante fornecedor.
- A argentina perdeu o mercado brasileiro porque travou as exportações. E os moinhos brasileiros estão comprando de outros lugares. A Argentina deixou o mercado brasileiro nas mãos de seus concorrentes – afirma.
Mercado em baixa
Adreani avaliou que, apesar da atividade econômica mais lenta, a China deve continuar a liderar a demanda internacional por soja, que ainda tende a ser crescente. E, na visão do consultor, o Brasil deve ser a chave para o abastecimento não apenas do país asiático, mas de outros mercados globais.
- Os Estados Unidos não vão conseguir sustentar o crescimento da produção de soja. A Argentina só crescerá na produção de farelo e óleo de soja para abastecer a demanda mundial. Neste cenário, vejo uma maior semeadura de soja no Brasil – disse o consultor, estimando que a produção brasileira na safra 2015/2016 chegue a 100 milhões de toneladas de soja.
Neste momento, lembrou Adreani, o mercado vem sendo influenciado pelo clima nos Estados Unidos, onde fortes chuvas em algumas regiões têm causado atrasos no plantio de soja. De acordo com o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA), até o fim da semana passada, 90% da área prevista tinham sido semeados. No mesmo período no ano passado, eram 95%, assim como a média dos últimos cinco anos. Entre as lavouras com algum grau de desenvolvimento, 65% são consideradas de boas a excelentes. No relatório anterior, essa proporção estaca em 67% e no mesmo período em 2014, em 72%.
Adreani destaca que essa preocupação com o atraso no plantio da soja norte-americana é um fator de alta para os preços do grão na Bolsa de Chicago e pode até trazer algum suporte no curto prazo. No entanto, entre julho e agosto, a expectativa dos analistas estará ligada aos efeitos do verão sobre a produtividade das lavouras do país.
- Teremos um mercado climático com alta volatilidade. Mas é um mercado tranquilo, sem espaço para fortes altas. Pode haver alguma estabilidade. Altas vão depender do clima nos Estados Unidos e depois na América do Sul – avaliou o consultor, para quem a tendência, pelo menos até este momento, ainda é de baixa para os preços em função de uma expectativa de excesso de oferta no mercado mundial.
Fonte: Globo Rural