A tarifa de energia elétrica entrou definitivamente na lista de “vilões” do agronegócio. Após o último reajuste determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a conta de luz dos abatedouros, frigoríficos e demais agroindústrias subiu, em média, 60,5% somente em 2015. O setor industrial contabiliza aumento de 31,8% em março e outro de 15,61% na semana passada, que passa a vigorar amanhã. A fatura residencial subiu, no acumulado do ano, 51%.
- Esses aumentos acabam por pressionar a rentabilidade do produtor. Apesar de 40% do consumo de energia ocorrer no período noturno[após as 22h], em que a tarifa tem desconto, muitos equipamentos ficam ligados 24 horas – aponta Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Dentre as atividades agropecuárias do estado, a avicultura é um dos setores mais atingidos pelo reajuste da energia. De acordo com cálculos da Faep, a eletricidade representava 5,5% do custo de produção do setor em dezembro, saltando para 9,5% agora. Atualmente, o Paraná é o maior produtor e exportador de frango do país.
Segundo Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), a energia elétrica é o insumo de serviço mais caro para o setor, acima inclusive da mão de obra. Em alguns frigoríficos, a conta de luz corresponde a 35% da folha salarial. No início de 2014, “antes dos aumentos mirabolantes do governo”, a proporção era de 12%, compara o dirigente. Algumas plantas instaladas no estado têm até 1 mil funcionários.
- A paulada na cabeça veio na hora em que campo mais precisava do governo. O agro não tem como prescindir da energia. É impossível desligar as máquinas dos incubatórios, pois os embriões morreriam. Assim como não se pode desativar as câmaras frias – ressalta Martins.
Cadeia produtiva
Diante deste cenário, muitos frigoríficos e abatedouros apelaram para geradores a diesel, que segundo Martins, é mais barato que usar energia elétrica. Os equipamentos, inicialmente instalados para uso emergencial, estão sendo ligados diariamente, entre 18 horas e 22 horas, quando a tarifa é mais cara.
- No horário de pico, a tarifa é até 11 vezes mais cara que a tarifa normal. Os geradores, que seriam para momentos de calamidade, viraram rotineiros – diz.
No campo, o reajuste também gera apreensão entre os produtores. A energia elétrica é fundamental na propriedade do avicultor Ari Hansen, de Marechal Cândido Rondon, no Oeste do estado, para o bom funcionamento do aviário com 44 mil aves. Ele viu a conta de luz saltar de R$ 1,4 mil/mês para R$ 1,8 mil/mês em seis meses.
- Com o novo aumento, vai passar de R$ 2 mil/mês – diz.
Apesar do aumento nos custos de produção, Hansen não tem esperança de receber mais pela engorda do frango.
- O frigorífico também terá reajuste na conta. O jeito é procurar formas mais eficientes para não inviabilizar a atividade – lamenta.
Além da avicultura, outros setores do agronegócio estadual precisam lidar com o reajuste da energia. No campo, os produtores que utilizam pivôs para a irrigação já se preparam para o aumento da conta na próxima safra de verão. Assim como pequenos produtores de hortifrutigranjeiros, que utilizam aquecedores para garantir o crescimento das frutas, verduras e hortaliças em regiões com inverno rigoroso.
1,28 milhão
de toneladas de frango foram exportadas pelo Paraná em 2014, crescimento de 12,5% em relação ao desempenho de 2013 (1,14 milhão de toneladas de carne). Os embarques paranaenses cresceram quatro vezes maior que o indicador nacional no ano passado (3%).
9,5%
é quanto representa a energia elétrica no custo de produção da avicultura no Paraná. Anterior aos dois reajustes do governo federal em 2015, esse porcentual era de 5,5%. A atividade é um dos setores do agronegócio mais atingidos pelo aumento da conta de luz.
R$ 0,31
é a tarifa média de energia (R$/kWh) sem tributos neste mês para um aviário de frango de corte de 1,2 mil metros quadrados com consumo de 2150 kWh/lote, de acordo com previsão da Faep. Em dezembro de 2014, o valor era de R$ 0,21. Ou seja, em menos de seis meses, o aumento foi de 47%.
Fonte: Gazeta do Povo