Terminou na sexta-feira (19) em Londrina o 32º Congresso Brasileiro de Nematologia. O evento reuniu 356 pesquisadores, profissionais e estudantes, do Brasil e exterior, EUA, França. Argentina e Paraguai. O tema “Nematologia: problemas emergentes e perspectivas” contemplou o debate e a apresentação de novas tecnologias para diagnóstico, quantificação e combate de espécies do verme nematoide que parasita plantas cultivadas em todo o mundo. A praga chega a causar perdas de até 15% na produção agrícola no Brasil, especialmente na soja. Segundo especialistas é preciso avançar mais no trabalho de conscientização dos agricultores para a presença da praga e para a possibilidade de melhorar o manejo, inclusive biológico, reduzindo sua presença e danos e garantindo o aumento da produtividade.
A presidente da comissão organizadora Andressa Cristina Zamboni Machado, pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), disse ontem que a grade de conferências e painéis do congresso foi estruturada a partir de temas atuais e que desafiam a comunidade científica. Zamboni disse que um foco importante é o desenvolvimento de alternativas de combate às pragas, além da opção química, em busca de manejos sustentáveis e dentro das exigências atuais para preservação do meio-ambiente.
- As empresas têm esse compromisso de buscar alternativas e já temos ferramentas de controle biológico, além de plantas mais resistentes, métodos de rotação de culturas e outras soluções sustentáveis – disse ele.
A fitopatologista e nematologista Débora Santiago, vice-presidente do congresso, disse ontem que o cenário agrícola tem despertado atenção para o problema nematoide em função das perdas que vem fazendo na cultura da soja. Segundo ela, tais perdas se verificam pela falta de manejo adequado de áreas com uso intensivo com mesma cultura.
- Das coletas de amostras de solo e raiz em áreas de soja no Paraná, em instituições de pesquisas como Embrapa, Iapar, UEL e mesmo os laboratórios, cerca de 70% a 80% tem presença de nematoides de várias espécies – diz Débora.
Ela cita os principais, os nematoides de lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), cisto (Heterodera glycines) e formadores de galha (Meloidogyne ssp), que segunda a Embrapa Soja Londrina tem reduzido em até 10% a produtividade na cultura da soja.
Integrante de Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Débora Santiago diz que a estratégia de combate ao nematoide tem sido a insistência na melhoria do manejo. A nematologista diz, porém, que o combate à praga tem que avançar muito mais.
- Hoje ainda falta capacitação de profissionais na área de nematologia. Temos um grupo de pesquisadores na Sociedade Brasileira de Nematologia relativamente grande, mas os profissionais que saem das universidades, nem todos tem essa disciplina e tiveram esse treinamento. Falta capacitação para diagnósticos, formas de coletar amostras, para onde enviar, como identificar e outras medidas – alerta.
Empresas mostram soluções
Com seu estande no congresso, a empresa suíça Syngenta apresentou um mapeamento inédito de lavouras de algodão, soja e milho que sofrem com a infestação de nematoides. E está relançando um produto, o Avicta Completo, para ajudar a controlar a incidência das pragas indesejáveis, revela o gerente de produtos Murilo Fernandes. No mapeamento em 595 municípios em 14 estados produtores de algodão, soja e milho, há uma alta infestação de nematoides Meloidogyne (26%), Pratylenchus (74%), Helicotylenchus (53%), Heterodera (24%) e Rotylenchulus (11%).
- As áreas infestadas por nematoides tem, em média, uma queda de produtividade de 30%, podendo chegar até 80% em casos mais críticos – diz Fernandes.
O Avicta Completo é o primeiro nematicida para tratamento industrial de sementes de milho, soja e algodão segundo a Syngenta.
A alemã Bayer CropScience apresentou no congresso o Drone CropStar, que sobe aos céus para fazer o monitoramento e o manejo dos campos agrícolas contra o ataque dos nematoides.
- É um sistema que faz o cruzamento de dados colhidos das análises de solo, com imagens aéreas feitas. Assim poderemos identificar os focos de incidência e trabalhar no manejo e controle da praga – ressalta Sigfried Baumann, gerente de SeedGrowth da Bayer CropScience.
Segundo ele, a ferramenta vai combinar com outras para buscar um controle mais efetivo da praça.
- Há soluções, começando com as sementes, novos produtos inclusive biológicos, um pacote que o agricultor tem para trabalhar de forma integrada – afirma.
A israelense Adama indica que a praga pode gerar perdas bilionárias.
- O montante de perdas diretas e indiretas pode chegar a ordem de R$ 30 bilhões, de acordo com levantamento não-oficial realizado pela companhia na safra 2013/14, uma vez que o ataque se dá de forma generalizada em grande parte das culturas agrícolas do país – diz o agrônomo de Desenvolvimento de Produtos da empresa, Gerson Dalla Corte.
A empresa está apresentando no evento uma nova tecnologia para fazer o controle da praga no Brasil.
Laboratório orienta agricultor no MT
Tania de Fatima Silveira é responsável pelo Laboratório de Nematologia da Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso (Aprosmat).
- Temos outros dois laboratórios, de patologia de sementes e de controle de qualidade e sanidade. É um trabalho de prestação de serviços para combater as várias raças de nematoides presentes no estado – diz Silveira.
Ela diz que o laboratório está para ser creditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
Fonte: Gazeta do Povo