Levar uma empresa familiar para as gerações futuras de forma eficiente e rentável é um trabalho que exige muita dedicação por parte dos pais e, claro, dos filhos. No campo, essa realidade também é latente e no caso da agricultura familiar, bem desafiadora. Aquele pedaço de terra – mesmo pequeno – gera renda e tem impacto nos números do agronegócio nacional e da produção de alimentos. De fato, a sucessão familiar no meio rural precisa ser discutida.
De acordo com números compilados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), referentes ao Censo 2010, são 210,5 mil jovens em áreas rurais, em 311 municípios do Estado. Do total, 84% são responsáveis pela produção ou são trabalhadores familiares que residem no campo. Outros são assalariados, mesclando a vida na propriedade com um emprego na cidade.
O Paraná busca atualmente debater o tema de forma mais objetiva. Neste mês, por exemplo, foi realizado o Seminário Sucessão Familiar Rural, promovido pela Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab), Emater e Assessoria Especial de Juventude (AEJ). O evento é resultado dos estudos realizados sobre a evasão de jovens no meio rural pelo grupo de trabalho criado pelo Governo do Paraná, por meio do Decreto 1182, publicado em abril de 2015.
Enquanto as políticas públicas não ganham a eficiência necessária para manter estes jovens no campo, alguns projetos mostram resultados bem importantes. Um deles, sem dúvida, é o Programa Jovem Agricultor Aprendiz (JAA), criado em 2005 pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-PR).
Atualmente, são 170 turmas com jovens de 14 a 18 anos distribuídas por todo o Estado, com 80 instrutores/professores cadastrados. Com uma carga horária de 144 horas, eles aprendem no contraturno escolar conteúdos que vão prepará-los para a vida na propriedade, desde temas como meio ambiente, cidadania e sucessão familiar, até assuntos específicos, como pecuária, plantio, colheita e até diagnóstico da propriedade. Depois, para aqueles jovens que desejarem, existe um novo módulo, agora mais aprofundado, com temas como bovinocultura leiteira, mecanização, fruticultura, olericultura, piscicultura, entre outros.
A coordenadora e idealizadora do JAA, Regiane Hornung, relata que o grande desafio foi criar um programa direcionado a esse jovem da zona rural, que muitas vezes busca evadir do campo devido a falta de informação sobre as próprias atividades que ele está inserido. “O resultado é uma maior conscientização do jovem sobre o que é o campo. Eles deixam de se sentir filhos de produtores e passam a se olhar como produtores. Muitos têm a falsa ideia que deixando o campo e vindo para Curitiba, terão uma vida melhor”.
São diversos depoimentos, alguns que estão inclusive nesta edição da FOLHA RURAL, que mostram a transformação da mentalidade após o JAA. “Eles se sentem preparados, muitos se tornam agrônomos, veterinários e zootecnistas para ajudar os pais. Não temos um estudo estatístico dessas transformações, mas são muitos casos, inclusive dos instrutores criando vínculos fortes com eles”.
Para o futuro, um dos desafios, segundo Regiane, está na capacitação dos instrutores para que eles levem um conteúdo programático mais atrativo aos alunos. “Lidar com os jovens está cada vez mais complicado. Muitos estão sem motivação para o futuro. Não adianta levar conteúdos sem trabalhar o lado humano da pessoa e da família”, complementa.
Fonte: Folha de Londrina – 28/11/2016
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