Enquanto a produção orgânica ainda engatinha nas lavouras de grãos do Rio Grande do Sul, no arroz o avanço é mais perceptível pelo consumidor. Destinado diretamente à alimentação humana, o cereal com base ecológica busca ocupar cada vez mais espaço no mercado interno. A percepção de valor e a maior facilidade de controlar plantas invasoras em áreas inundadas têm estimulado produtores.
– No arroz, é mais fácil controlar pragas com o manejo da lâmina de água e pela biodiversidade presente nas lavouras, diferentemente da soja e do milho – explica André Oliveira, agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em Pelotas.
Conforme dados da entidade, a área cultivada com o cereal ecológico somou 5 mil hectares na última safra – do total de 1,1 milhão de hectares semeados. Ao todo, 502 produtores cultivam arroz orgânico no Rio Grande do Sul, o equivalente a 4,5% dos 11 mil arrozeiros. Em março, a abertura oficial da colheita do arroz orgânico, em Eldorado do Sul, trouxe ao Estado a presidente Dilma Rousseff.
Na Fazenda Capão Alto das Criúvas, em Sentinela do Sul, a produção orgânica data de quase 30 anos. O proprietário João Volkmann vai além dos princípios da ecologia ao adotar conceitos diferenciados de fertilidade do solo e de organismo agrícola (propriedade rural como um organismo vivo), a chamada agricultura biodinâmica – técnicas originárias da Alemanha.
Além de não ter agrotóxicos, adubos químicos ou conservantes, a produção recebe aplicações homeopáticas de compostos preparados a partir de cristais e plantas medicinais.
– As técnicas envolvem conhecimentos de astronomia e desenvolvimento das plantas, que conseguem cumprir melhor sua função – explica o produtor.
Com 180 hectares cultivados e 15 funcionários, Volkmann produz 500 toneladas por ano. Toda a safra é industrializada na própria fazenda, onde é embalada à vácuo para ser vendida para todo o país. O preço varia de R$ 4 a R$ 6 por quilo.
– A propaganda é no “boca a boca”, pela qualidade diferenciada – destaca Volkmann, acrescentando que os custos com mão de obra e logística são os principais limitadores da atividade.
Sem uma fórmula pronta, com sistemas de manejo distintos, a produção orgânica é competitiva quando a gestão é eficiente, destaca Ari Uriartt, agrônomo da Emater. Como exemplo, ele cita feiras ecológicas e programas públicos de alimentação escolar, que necessitam de registros de certificação para o produtor participar:
– A organização do processo produtivo é fundamental, tanto para acessar o mercado quanto para tentar aumentar escala – destaca Uriartt.
O crescimento da organização é traduzido em números. Em 2014, a adesão ao sistema de intercâmbio de sementes e mudas orgânicas dobrou na comparação com 2013, chegando a 7.397 famílias no Estado, com destaque à troca de sementes de milho crioulo, hortaliças e frutas cítricas. Neste ano, estima a Emater, 7,5 mil famílias vão aderir ao sistema de intercâmbio de sementes e mudas orgânicas no Estado.
Diferenciais na hora de cultivar
Proteção: para controlar o ataque de pragas e doenças, é feito controle biológico da produção. No lugar de inseticidas e fungicidas, usam formas naturais de controle, como Trichogramma sp. (micro vespa), pó de rotenona (substância encontrada nos extratos de raízes e caules de plantas) e caldas à base de biofertilizantes (mistura de uma série de nutrientes, como cobre, melaço de cana e esterco).
Fertilizante: a adubação do solo é feita com biofertilizantes ou resíduos sólidos gerados na propriedade, como restos de culturas, de alimentos, esterco de galinha, conteúdo ruminal de bovinos, podas de árvores etc.
Semente: as sementes usadas são orgânicas certificadas e garantidas por meio de trocas entre produtores. A prática de não usar variedades geneticamente modificadas busca promover a biodiversidade na produção de alimentos.
Fonte: Zero Hora