– Meu avô era raizeiro. Ele tinha 94 anos e eu era menino, mas ele me levava para o meio do cerrado para arrancar as raízes e fazer remédio. Ele foi me ensinando a amar o Cerrado – conta Clóvis José de Almeida.
Foi assim que Clóvis José de Almeida, produtor rural, começou a contar a sua história. Ele participou do 1º Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado, realizado nesta sexta-feira, 29 de maio, na Fazenda Entre Rios, localizada à 60 quilômetros de Brasília.
- Naquela época, não tinha os remédios que temos hoje. E meu avô pegava jatobá e macaíba para as crianças que nasciam com ‘amarelão’. Ele amava o que fazia. Ele sempre dizia que a gente pode comer tudo o que passarinho come. E fui aprendendo sobre raízes, flores e frutas – continuou contando o produtor.
Seu Clóvis explicou que passou por momentos difíceis na vida. Capinava terrenos e vendia picolé na rua para complementar sua renda. Passou um longo período desempregado.
- Tinha dia que eu não vendia nenhum picolé. Voltava triste para casa – lembra.
Foi quando ele recebeu uma proposta de fazer o próprio picolé. Seu Clóvis ganharia uma máquina de fazer picolé e a metade da produção seria dele. A outra metade era do dono da máquina.
Com a máquina de picolé nas mãos, Seu Clóvis pensou em usar como ingrediente as frutas que ele via estragar no pé.
- Mangaba é delicioso e ninguém comia! – disse.
Foi assim que ele começou sua produção de picolés de frutas do Cerrado: Araçá, Araticum, Brejaúba, Buriti, Gabiroba, Graviola, Jabuticaba, Mamacadela.
As frutas do Cerrado que Seu Clóvis aprendeu a amar desde os tempos que ia para o mato com o avô, serviram de inspiração para uma nova linha de produtos.
- Eu comprava fruta dos vizinhos porque minha terra era muito pequena. Hoje, tenho 15 hectares com 116 variedades de frutas nativas do Cerrado. Toda a minha produção, uso para fazer os picolés. Já quase morri de fome, mas hoje vamos começar a exportar as frutas do cerrado, em formato de picolé e sorvete, para países da Europa e Estados Unidos – finalizou.
Trata-se do picolé Sabores do Cerrado, que se transformou na agroindústria Frutos do Brasil.
Seu Clóvis contou sua história aos 200 participantes do Dia de Campo do Projeto Biomas no Cerrado.
Várias pesquisas apresentadas pela equipe do Projeto Biomas mostram o potencial da árvore frutífera para Recuperação de reserva Legal e para Área de Preservação Permanente.
- Esses experimentos demonstram como o produtor rural pode ter renda sem deixar de cumprir a legislação ambiental vigente -explica Felipe Ribeiro, Coordenador Regional do Projeto Biomas no Cerrado.
No Dia de Campo, foram apresentados 12 dos 22 experimentos implantados na área experimental do Bioma Cerrado.
- Foi uma grande oportunidade de mostrar os primeiros resultados dos últimos 5 anos de trabalho – comemorou Cláudia Rabello, Coordenadora do Projeto Biomas na CNA.
Sobre o Projeto Biomas
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos.
Os estudos estão sendo desenvolvidos para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas brasileiros.
O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto e John Deere.
Fonte: Coordenação de Comunicação Digital da CNA