Após dois anos de grandes frustrações, os produtores gaúchos de trigo têm motivos para estarem esperançosos. Próximo ao início da colheita, que se inicia neste mês, tudo indica que a safra de 2016 será uma das melhores dos últimos anos. Além de as projeções ultrapassarem 2,2 milhões de toneladas, a expectativa é por um cereal de boa qualidade, diferente do visto em 2013 e 2014. Se confirmadas, as condições devem compensar, pelo menos em parte, a queda constante no preço do trigo.
- Teremos uma safra a princípio bem diferente das duas anteriores, não há nada, por enquanto, comprometendo a qualidade do trigo gaúcho – comenta o presidente da comissão do trigo da Farsul, Hamilton Jardim. Em 2014 e 2015, o excesso de chuvas e geadas prejudicaram o cereal, que acabou escoado quase que totalmente para a ração animal e até para países menos tradicionais, derrubando a renda dos produtores.
O clima, dessa vez, está ajudando. Seco e alternando temperaturas quentes durante o dia e frias durante a noite, é o ideal para a cultura, acrescenta o engenheiro agrônomo da Emater, Cláudio Dóro, que projeta a safra em pelo menos 2,2 milhões de toneladas. Jardim, por sua vez, afirma crer em uma produção entre 2,3 a 2,5 milhões de toneladas de trigo em solo gaúcho, resultado que pode remotivar os produtores a continuarem na cultura.
- A grande preocupação é o preço – diz Jardim.
O desconforto se dá porque o valor de mercado da saca de 60 quilos do cereal já está abaixo do preço mínimo do trigo definido pelo governo federal, estipulado em R$ 38,65. Na semana passada, a saca saiu em média por R$ 36,29, segundo a Emater. O motivo é uma superprodução mundial, que encheu estoques e derrubou os preços internacionais do trigo. Só a Argentina, por exemplo, tem previsão de colher mais de 14 milhões de toneladas, das quais pelo menos 9 milhões, segundo Dóro, serão excedentes voltadas à exportação. O próprio Brasil como um todo deverá colher em torno de 6 milhões de toneladas.
Além disso, é difícil para os triticultores garantirem os preços com instrumentos como contrato futuros, como acontece com a soja, por exemplo.
- O trigo é uma cultura diferente, em que é preciso colher primeiro, ver a qualidade, para depois buscar o preço – analisa Jardim.
É essa característica, também, que justifica a expectativa de que, caso cumpra-se a expectativa de boa qualidade no cereal, haja a possibilidade de se buscar valores maiores na venda do que os atuais.
O setor também aguarda que o governo federal efetive os mecanismos da Política de Garantia de Preços Mínimos caso a cotação não melhore. Instrumentos como a aquisição direta e operações de Prêmio de Escoamento de Produto (Pep) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) podem ser utilizados para garantir o valor mínimo.
- O custo de produção está muito alto e temos que ter mecanismos que sustentem esses preços – defende Jardim, que estima em 50 sacas por hectare a produtividade que empate o custo da lavoura.
Apesar disso, a Farsul esperará a efetivação do mercado antes de iniciar as tratativas com Brasília.
O presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado (Sinditrigo-RS), Andreas Elter acredita que preços baixos não são bons para nenhum elo da cadeia, pois depreciam, também, o valor do produto final.
- Teremos um trigo de excelente qualidade e fará, como em 2013, que os moinhos gaúchos tenham mais competitividade e absorvam mais da produção gaúcha – projeta Elter.
O dirigente argumenta, porém, que o setor não tem como absorver toda a safra, pois a demanda é de cerca de 1,5 milhão de toneladas. Nem mesmo essa quantidade deve ser comprada de terras gaúchas, pois os moinhos não têm capacidade de armazenagem para estocar toda a produção e também utilizam cereal importado para ajustes de qualidade – parcela que, pelo bom desempenho do trigo gaúcho, neste ano deve ser menor.
Fonte: Jornal do Comércio