Produtores de leite reclamam da margem de lucro da atividade e estão preocupados com o preço do produto em 2015.
Com 40 anos dedicados a atividade leiteira, a família Fredrich de Linha 3/Ibirubá, no noroested o Rio Grande do Sul, já está “vacinada” para as turbulências do mercado do leite – em 2014 o preço médio que recebeu da indústria ficou em R$ 1,00/litro, com piso de R$ 0,92/litro em janeiro e pico de R$ 1,06/litro nos meses de julho e agosto, valores acima da média paga a muitos produtores devido ao alto investimento da propriedade que conta, inclusive, com Compost Barn – alojamento para as vacas com “camas” feitas de serragem para dar conforto aos animais.
- Pelo capricho que temos, qualidade do leite e o alto investimento, o preço tem que ser melhor – destaca o produtor Renato Fredrich.
- A indústria exige muito em termos de sanidade dos animais, qualidade do leite: células somáticas, contagem bacteriana, proteína, gordura – complementa a esposa de Renato, Cleunice Fredrich.
A família admite que o valor do produto está acima da média de anos anteriores, mas o reajuste não acompanhou a inflação dos custos de produção. A ração é hoje a grande vilã custando aproximadamente R$ 1,08/kg e itens como a silagem, adubação e mão-de-obra pesam bastante nas despesas da atividade.
- Ninguém mais quer trabalhar no campo, temos que mecanizar ao máximo. Pelo aumento das coisas, um preço bom para o agricultor seria R$ 1,30/litro – reitera o pai de Renato, Valdemar Fredrich.
TENDÊNCIA DE BAIXA
Mas esse patamar de valores está longe de ser uma realidade, pelo contrário, conforme o analista da Scot Consultoria, que há 20 anos estudo o mercado de leite no País, Rafael Ribeiro de Lima Filho, a tendência é de baixa a curto e médio prazos.
- Até o final das férias o consumo diminui – avalia.
A lei da oferta e procura hoje não favorece o produtor rural – devido aos bons preços praticados em 2013, o produtor apostou mais na atividade e a produção nacional de leite aumentou 8,5% de janeiro a novembro de 2014 na comparação com o mesmo período de 2013 – no Rio Grande do Sul esse crescimento foi de 5,7%, de acordo com dados da Scot Consultoria. Porém o consumo está estabilizado desde 2011, depois de subir acima de 40% em relação ao início dos anos 2000. Conforme a MilkPoint – um dos principais portais de informações sobre o mercado lácteo brasileiro – em 2014 o consumo per capita de leite do brasileiro será de 173 litros/pessoa, de acordo com cálculos preliminares. O desafio para 2015 e num futuro de longo prazo é fazer o consumo continuar crescendo, até atingir patamares entre 215 e 240 litros per capita, como na Argentina e no Uruguai.
- Em 2015, o consumo de lácteos estará muito associado ao desempenho de nossa economia e, por isso mesmo, não se espera por um incremento nos volumes consumidos – relata o responsável pelo serviço de inteligência de mercado do MilkPoint Mercado, agrônomo e mestre em administração, Valter Bertini Galan.
Com a experiência de quem atua no setor lácteo há mais de 20 anos, com passagem na área de gestão de compra de leite na Nestlé Brasil e em outras grandes empresas multinacionais, o sócio da MilkPoint Inteligência também projeta valores médios do leite no próximo ano iguais ou inferiores aos preços obtidos em 2014 em função de quatro fatores: estoques de entrada do ano de 2015 maiores que 2014; preços médios aos produtores no início de 2015 menores que os de entrada em 2014; relação entre preços internacionais e preços no mercado brasileiro estruturalmente mais favoráveis as importações do que as exportações e o cenário econômico do mercado brasileiro indica que a demanda por lácteos tende a estar estável e até mesmo ligeiramente enfraquecida, sem grandes movimentos de crescimento.
- Vai ficar no leite quem realmente tem peito e coragem – conclui Cleunice.