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UMA CULTURA DE EXTREMOS

Tão comum na dieta do brasileiro, o feijão se tornou um produto de luxo na mesa dos consumidores. Devido a problemas de abastecimento, a leguminosa atingiu preços recordes no mercado nos últimos meses e, de um ano para cá, subiu 338%, segundo dados do “Panorama de mercado das principais atividades da agropecuária paranaense”, estudo produzido pelo Sistema FAEP/SENAR-PR. Só para efeito de comparação, em junho do ano passado, a saca de 60 quilos de feijão carioca custava R$ 111,80 e, no mesmo mês deste ano, passou a valer R$ 378,13.

Há pouco mais de dois anos a situação desse mercado era oposta. Nesse período, o cenário era dramático para os produtores de feijão no Paraná, principalmente para os da região Sudoeste, onde a saca chegou a ser vendida a R$ 10,00. Na época, como foi publicado no Boletim Informativo, o governo não havia liberado os recursos das Aquisições do Governo Federal (AGF), o que complicou ainda mais a situação dos produtores rurais. Diante disso, a FAEP acionou, em janeiro de 2014, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que o governo tomasse uma atitude que garantisse, pelo menos, o preço mínimo de R$ 95,00, de acordo com Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM).

O produtor Wilson Rickli, de Prudentópolis, região Centro-Sul, vivenciou essa trajetória de extremos. Há duas semanas, negociou os últimos contratos da safra de feijão – que colheu no final de maio deste ano – e vendeu a saca de feijão carioca a R$ 540,00 e a do preto por R$ 250,00. Nessa mesma época do ano passado, ele comercializou a saca deste último a R$ 120,00. Na segunda safra, com o início do plantio em fevereiro, após a colheita de milho, ele destinou uma área de 1 mil hectares à cultura. O número representa um aumento de 20% na comparação com a safra anterior. Diante dos preços fora da curva, Wilson conta que está animado com a cultura e deve manter a mesma área na próxima safra.

Ao mesmo tempo em que os produtores estão animados com o atual cenário do feijão, há uma incerteza diante dos custos de produção. No final de agosto, o produtor Eduardo Medeiros, de Castro, vai semear uma área de 300 hectares de feijão carioca. Segundo ele, o preço do quilo da semente de feijão está R$ 13,00, o que representa um custo três vezes maior na comparação com a última safra. “Hoje, os preços do feijão no mercado estão excelentes, mas, com os altos custos de produção, a gente se preocupa de como estarão esses valores quando ocorrer a colheita, o período de outubro e janeiro. Porque até lá o mercado pode mudar”, observa Medeiros.

De acordo com o engenheiro-agrônomo Cristopher Azevedo, do Departamento Técnico Econômico da FAEP e autor do levantamento sobre feijão que faz parte do estudo, a saca de feijão carioca chegou a ser negociada a R$ 580,00 em alguns Estados. O valor foi diretamente repassado ao consumidor, que chegou a pagar R$ 15,00 pelo quilo do produto.

Diante dos altos preços e como tentativa de abaixá-los por aqui, o governo federal aprovou, no último dia 23 de junho, a alíquota zero para a importação de feijão preto de outros países. “Ocorre que o tipo de feijão que está em falta no mercado é o carioca, consumido principalmente no Brasil. A importação do feijão preto pode afetar pouco os atuais preços”, avaliou Cristopher.

Segundo ele, com a entrada da primeira da safra 2016/2017, que será plantada em setembro e colhida a partir de janeiro, a tendência é de que os preços do feijão voltem ao normal. Até lá, é bem provável que o consumidor continue pagando caro pelo produto.

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Fonte: Sistema FAEP



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