O centro-sul do Brasil produzirá 31,8 milhões de toneladas de açúcar na temporada 2015/16, queda de 0,6 por cento ante o ciclo anterior, enquanto a produção de etanol será recorde, com um tempo mais favorável para os canaviais em relação à safra passada, previu nesta quinta-feira a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
A produção de etanol terá aumento anual de 4,3 por cento, atingindo 27,28 bilhões de litros, superando a marca histórica da safra passada, com usinas destinando mais cana para a produção do biocombustível, mais remunerador que o adoçante, de acordo com a primeira projeção da Unica para a temporada iniciada oficialmente em 1º de abril.
O patamar histórico, entretanto, não espelha a grave crise pela qual passa boa parte das indústrias, afetadas por adversidades climáticas nos últimos anos, aumento de custos e elevado endividamento, que levou 67 usinas à recuperação judicial, segundo a Unica.
A moagem de cana do centro-sul, que tem respondido nos últimos anos por aproximadamente 90 por cento da produção de cana do Brasil, deverá somar 590 milhões de toneladas, alta de 3,3 por cento ante a fraca safra passada, atingida em 2014 por uma seca praticamente sem precedentes em Estados como São Paulo e Minas Gerais. O volume previsto, no entanto, ficará abaixo do recorde da safra 2013/14, de 597 milhões de toneladas.
Esse aumento da moagem ante 2014/15 decorre especialmente da expectativa de maior produtividade agrícola da lavoura a ser colhida na safra 2015/2016, devido a melhora nas condições climáticas, apesar dos baixos investimentos feitos nos canaviais por um setor, de maneira geral, abalado por problemas financeiros.
- A retração na renovação dos canaviais no último ano e o consequente envelhecimento da lavoura devem ser mascarados pelo regime hídrico mais adequado ao crescimento da planta observado no início de 2015 – disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, em comunicado.
Segundo Padua, o setor precisaria reformar 1,5 milhão de hectares de canaviais por ano, o que não tem acontecido.
- Então precisaríamos de 10 bilhões de reais por ano para investir em replantio. As linhas do BNDES nunca passaram de 4 bilhões. Às vezes, não chegou à metade disso – disse Padua a jornalistas, ressaltando que muitos canaviais estão envelhecidos.
Mesmo assim, a expectativa é de que ocorra um aumento na produtividade da lavoura neste ano, disse a Unica. Mas o número final estimado para a safra ainda vai depender do índice de precipitação dos próximos meses, ponderou Padua.
Com um endividamento crescente e uma fraca remuneração obtida com a venda de açúcar e etanol nos últimos anos, dez usinas deixarão de operar na atual temporada, totalizando 90 unidades paradas na região desde 2008, segundo o diretor.
Estímulo do consumo
Do total de cana moída na safra 2015/2016, a Unica estima que 58,1 por cento deverão ser destinados à produção de etanol (e o restante para o açúcar), aumento de 1,12 ponto percentual em relação ao registrado na safra passada, com o produto hidratado tendo ficado mais competitivo em relação à gasolina após reajuste da Petrobras no final do ano passado.
- A grande mudança que houve foi que agora o governo diz que a questão de preço da gasolina é com a Petrobras. Quem determina o tamanho do mercado é o consumidor. Enquanto o etanol estiver competitivo, ele vai continuar demandado – disse o diretor técnico.
Além disso, as cotações futuras do preço do açúcar no mercado internacional e o potencial de preço do etanol no mercado doméstico ainda indicam uma receita favorável ao biocombustível.
Moagem efetiva em queda
A moagem de cana e a produção de açúcar e etanol do centro-sul na primeira quinzena de maio da safra 2015/16 recuaram fortemente ante o mesmo período da temporada anterior, apontaram dados da Unica nesta quinta-feira.
A produção de etanol do centro-sul na primeira parte do mês somou 1,3 bilhão de litros, queda de 18,3 por cento ante mesmo período da safra 14/15. Já a produção de açúcar atingiu 1,24 milhão de toneladas, recuo de 35 por cento na comparação anual.
Isso resultou em uma queda na produção de açúcar e etanol no acumulado da safra.
A produção de açúcar do centro-sul do Brasil, maior produtor e exportador global, somou 2,85 milhões de toneladas até 15 de maio (-16,5 por cento na comparação anual), enquanto a produção de etanol atingiu 3,2 bilhões de litros (-1,7 por cento).
Segundo Padua, a redução na taxa de renovação dos canaviais reflete a difícil situação financeira observada em parcela significativa das unidades produtoras e, apesar de ter seu impacto minimizado este ano pelo clima, deverá promover uma redução na disponibilidade de cana para colheita em algum momento nas próximas safras.
Fonte: Reuters