Antes mesmo da consolidação da safra 2014/15, com a conclusão da colheita – encerrada no mês passado, em Mato Grosso – os produtores estaduais já faziam as contas e as primeiras compras dos insumos do novo ciclo, e mais uma vez, o desembolso por hectare promete ser recorde e estacionar muito próximo do patamar histórico de R$ 3 mil. O mesmo dólar que embalou negócios no primeiro trimestre do ano, mesmo perdendo um pouco da sua força, passa a ser um adversário, quando os olhos se voltam para o planejamento da nova temporada.
Mesmo ainda sem divulgar sua primeira estimativa de safra para a soja 2015/16, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), já divulgou sete levantamentos de custo para o novo ciclo da cultura. O primeiro, em novembro do ano passado, apontava para uma despesa média, tanto nas lavouras convencionais como nas transgênicas, de cerca de R$ 2,50 por hectare, com a moeda norte-americana cotada em R$ 2,45. Em abril, após o momento mais vigoroso da cotação do dólar no país nos últimos anos (e também em 2015), a projeção de custo teve como base um dólar a R$ 3,14 e com isso, a estimativa passou para R$ 2,90 por hectare.
Em maio, a mais recente projeção, já foi calculada sobre uma cotação de R$ 3,04 e com isso, o desembolso revisto para pouco mais de R$ 2,80 mil.
Da safra 2014/15, para a próxima, e considerando a estimativa de custo de maio, há um incremento anual de 15,70%. Da safra 2013/14 para a 2014/15, por exemplo, a alta já havia sido de mais de 30%.
Como destaca o Imea, por meio da publicação Boletim Semanal da Soja, divulgado ontem, “a projeção de custo ficou menor {em comparação a divulgada em abril, mas ainda segue recorde”.
Como explicam os analistas da entidade, o custo de produção da safra 2015/16 apurado em abril e divulgado em março se mostrou menos oneroso para o produtor que o custo de março, mas continua sendo o maior da história.
- Enquanto que em abril de 2014, tomando como base o custo de produção ponderado da safra 2014/15 e a média de maio do preço da paridade de exportação para mar/15, o produtor necessitaria de 32,6 sacas (sc/ha) para cobrir o custo com os insumos, na safra 2015/16, utilizando as mesmas variáveis, o gasto seria de 34,8 sc/ha. O alto custo torna a relação de troca maior na próxima safra – enfatiza o produtor.
Diante de uma projeção que tem tendência de crescer mais, ou um pouco menos, no entanto sem possibilidade de retrair e tornar o custo inferior ao da safra passada, os analistas aconselham o produtor a focar na produtividade, como forma de driblar os efeitos da alta, que torna a relação de troca desfavorável, já que ele tem de abrir mão de mais sacas para cultivar a mesma área.
- Boa produtividade para a próxima temporada será primordial, pois os preços estão amenizando atualmente a elevação do custo por causa do dólar, variável volátil demais para servir de esteio a menos que se faça a sua fixação. Além disso, as cotações internacionais podem sofrer nova pressão pela expectativa de boa safra nos Estados Unidos – afirma ele.
Ou seja, por mais que o dólar possa estacionar, mesmo que em patamar acima do que era há um ano, há uma pressão de oferta vinda dos norte-americanos que tende a empurrar as cotações para baixo, movimento que seguirá tornando a relação de troca mais pesada ao produtor.
A relação de troca é o termo utilizado para quantificar as sacas que o produtor precisa dispor à uma revenda/fornecedor, para ter acesso aos insumos que garantam o plantio da lavoura. Nesse caso, onde a soja é moeda do produtor para aquisição dos insumos, se o plantio do ciclo 2015/16 começasse hoje, no Estado, o produtor precisaria de quase 35 sacas para fazer um hectare de soja e para haver vantagem no ‘negócio’, necessita de uma produtividade muito boa, bem acima de 50 sacas, para fazer frente a outros investimentos no decorrer do desenvolvimento da safra, bem como, extrair sua remuneração.
Na semana passada as primeiras estimativas oficiais da safra norte-americana 2015/16, tão aguardadas pelo mercado, foram lançadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês). Conforme o Imea, o principal destaque foi a estimativa de estoque final da temporada, 13,6 milhões de toneladas, ser a maior desde a safra 2006/07.
- Nos próximos dias, as atenções se voltam para o tamanho da área semeada no país, e até o início da colheita (final de agosto), para o monitoramento do clima para a consolidação da produção. Assim, nos próximos meses, o lado da oferta deve apresentar um peso muito maior sobre as previsões dos estoques e, consequentemente, na movimentação do mercado, ou seja, dos preços – conclui ele.
Fonte: Diário de Cuiabá