Com gado certificado no mercado internacional, catarinenses visam fechar acordo com a Coreia do Sul. A retirada da vacinação contra a aftosa em Santa Catarina foi um processo demorado e caro, mas passou a ter melhores resultados recentemente, com o início das exportações de carne suína para Japão e Estados Unidos.
Hoje, Santa Catarina investe R$ 200 milhões por ano em sanidade animal. O valor é quase o dobro do Paraná e cinco vezes maior do que o previsto pelo Rio Grande do Sul em 2015. O rebanho catarinense é de 4,28 milhões de cabeças, segundo o Ministério da Agricultura.
Para o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos, Losivânio Di Lorenzi, foi o diferencial sanitário que permitiu manter a liderança nas exportações de suínos e acessar mercados que outros Estados não conseguem.
– Foi importante para o crescimento da economia catarinense, pois garantiu competitividade – afirma Lorenzi.
Em 2014, Santa Catarina exportou US$ 548 milhões em suínos, enquanto no Rio Grande do Sul o total foi de US$ 423 milhões. Só para o Japão, foram US$ 16 milhões. O próximo mercado que os catarinenses visam é a Coreia do Sul.
Para o presidente da Companhia Integrada para o Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado, Enori Barbieri, retirar vacina foi estratégico.
Ele argumenta que os resultados são visíveis e atribui ao status sanitário o fato de o Estado não ficar em segundo plano nos investimentos .
– A sanidade fortaleceu o sistema agroindustrial, que já estava abandonando. Quem iria investir em um lugar onde o milho custa R$ 25 se em Goiás custa R$ 13,00 – avalia.
Na avaliação do diretor de defesa agropecuária de Santa Catarina, Roni Barbosa, a retirada da vacina só foi possível graças à vacinação “com agulha oficial”.
– Deu garantia de que os animais realmente foram vacinados – declara ele.
Rebanho mais valorizado
Representantes do setor avaliam que a retirada da vacina deu status internacional de qualidade às carnes catarinenses. Além disso, Santa Catarina já vislumbra que esse status permitirá exportar derivados de leite em até quatro ou cinco anos.
Barbosa lembra que no início até houve resistência de alguns criadores contra a retirada da vacinação, pela vulnerabilidade do rebanho. Mas, hoje, entende que a medida valorizou os animais.
Para o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Estado (Sindicarne) e da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Ricardo Gouvêa, seria positivo se a Região Sul adotasse a medida por garantir um bloco livre da doença e diluir custos com sanidade. Assim, a indústria produziria focada em países que pagam mais:
– Para a indústria, seria ótimo. O mercado está cada vez mais exigente, e só Santa Catarina e o Chile, na América do Sul, têm acesso a certos países.
Do controle à retirada da vacina
1960 a 1990 – O combate à aftosa começou em meados da década de 1960. Entre 1971 e 1983, a média era de 462 focos por ano. De 1984 a 1990, caiu para 54. Um dos problemas era que só se exigia do produtor o comprovante de compra da vacina, mesmo que não vacinasse.
1992 – O governo instituiu a “agulha oficial”. Foram contratados 2 mil vacinadores, e cada um ficou responsável por cem propriedades. Eles imunizavam os animais e cobravam o custo dos produtores. O último foco ocorreu em 1993, mas a ação oficial seguiu até 2000.
1998 – SC recebeu status de zona livre com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
2000 – Ministério da Agricultura declarou Santa Catarina zona livre de aftosa sem vacinação. Catarinenses proibiram entrada de bovinos vivos do RS, que tinha focos da doença, e montaram 69 barreiras sanitárias (hoje são 63) nas divisas entre os Estados e na fronteira com a Argentina.
2005 – Focos no Mato Grosso do Sul e no Paraná fizeram o Exército ser mobilizado para controlar a fronteira e as divisas em Santa Catarina.
2006 – Criado o Instituto Catarinense de Sanidade Animal, por meio do qual agroindústrias bancaram a contratação de mais de 300 pessoas, entre veterinários e auxiliares, para apoiar a Companhia Integrada para o Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina.
2007 – Santa Catarina recebeu o certificado internacional de zona livre de aftosa sem vacinação.
2013 – Catarinenses obtiveram a habilitação para exportar carne suína para Estados Unidos e Japão.
Fonte: Zero Hora