Mesmo em um ambiente de turbulência econômica, a indústria de café considera a possibilidade de acelerar ocrescimento do consumo interno da bebida neste ano em comparação com o ano passado. Na avaliação de Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), entidade que reúne o setor, 2016 pode terminar um aumento de mais de 2,5%, bem acima do registrado em 2015, quando a demanda doméstica cresceu apenas 0,86%, chegando a 20,5 milhões de sacas de 60 quilos.
“O consumo de café não diminuiu, mesmo com a crise. É uma bebida barata, um luxo acessível. Nós estamos vendo um aumento de oferta de produtos de alta qualidade e o brasileiro segue tomando seu café, mostrando que o café não vai, provavelmente, ser prejudicado pela crise econômica”, diz o executivo, que participou do Seminário Internacional do Café, promovido pela Associação Comercial de Santos, no Guarujá (SP).
A avaliação reflete percepção do setor em relação ao mercado, revelada em pesquisa recente feira pela entidade com base nos negócios entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, período em que, de um modo geral, as vendas cresceram 3,48% em relação ao intervalo de novembro de 2014 a fevereiro de 2015. O levantamento foi feito com 78 empresas que correspondem a 27% do volume vendido pelas associadas.
De acordo com a Abic, a maior parte das empresas consultadas espera pelo menos manter ou até mesmo aumentar o seu volume de vendas. E, mesmo diante da atual situação econômica, é também expectativa da maioria dos pesquisados manter ou elevar a rentabilidade de seus negócios no ano de 2016.
Mais baratos
Herszkowicz considera que, dependendo do segmento, os consumidores têm demonstrado comportamentos distintos. Segundo ele, os de maior poder aquisitivo têm a intenção de manter seus padrões de consumo da bebida, comprando as mesmas marcas e variedades. Os de menor poder aquisitivo também devem manter o níveo de consumo, mas tendem a reduzir seu tíquete médio, optando por marcas de preço mais baixo.
O diretor da Abic destaca que, mesmo no mercado de cápsulas, que registrou níveis de crescimento acelerado até o ano passado, o ritmo dos negócios está menor. “Mas ainda a tendência é de crescimento. Enquanto, nos próximos quatro anos, o consumo de café torrado e moído deve crescer em média 2,8% ao ano, as cápsulas têm um crescimento previsto de 15,3% ao ano, em média”, afirma.
Outro fator importante do comportamento da demanda é que, em função da crise, o consumo de café fora do larestá um pouco menor. Segundo Herszkowicz, em compensação, a opção pelo café no ambiente residencial tem crescido, já que é uma forma do consumidor reduzir despesas sem deixar de lado o hábito de apreciar a bebida.
“O valor do café tradicional, do consumo doméstico, talvez se mantenha ou pode até baixar. A qualidade é o motor do consumo. Nós temos que atender o consumidor, oferecer um produto de qualidade diferenciada, mas cada vez melhor porque isso vai manter o consumo e o interesse do consumidor nos diferentes tipos de café, nos momentos do consumo”, diz ele.
Custos
Embora perceba um movimento de parte do consumidor em direção a cafés de menor valor, a indústria descarta a possibilidade de reduzir os preços dos produtos, afirma Nathan Herszkowicz. Ele considera que o atuais patamares no varejo mantêm a bebida acessível. Acrescenta que, na outra ponta, as cotações da matéria-prima tem se mantido em níveis elevados, especialmente em função da taxa de câmbio.
“A indústria não tem expectativa de que o café em grão baixe de preço. Mesmo com a safra grande e boa, como temos no Brasil, a expectativa, por causa de outros fatores, como câmbio, é de se manter nos níveis como estão ou até uma pequena elevação, o que não vai permitir que a indústria baixe o preço do café”, diz.
Segundo o diretor da Abic, com um dólar cotado a R$ 3,80 ou até R$ 4, uma saca de café arábica de boa qualidade chegou a valer no mercado interno algo em torno de R$ 480 ou R$ 500. Além disso, a quebra da safra de conillon no Espírito Santo também encareceu a variedade usada nos blends colocados no mercado.
“A indústria passou a utilizar menos conillon porque não tinha como formar um custo com preço tão elevado. A indústria deve passar por essas experiências e conservar um produto de qualidade, mas não sentimos ainda falta ou indisponibilidade de café. Tem café para indústria e para exportação”, garante Herszkowicz.
Fonte: Revista Globo Rural
Fonte: Canal do Produtor