O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff avança em um momento crucial de definição governamental dos recursos e juros de financiamento do Plano Safra 2016/17, mas representantes do agronegócio avaliaram nesta segunda-feira que o programa terá encaminhamento dentro do governo federal, apesar das incertezas geradas pela crise política.
O setor do agronegócio, de maneira geral, posicionou-se a favor do impeachment da presidente. Independente disso, diante dos problemas políticos e das dificuldades do governo para equilibrar as suas contas, não há grandes expectativas de aumento nos recursos ou de juros mais favoráveis.
- A nossa visão é a seguinte: o Brasil não é uma república de bananas… disseram que estamos fazendo golpe, mas tem um processo institucional… Do mesmo modo, o Estado está aí, tem uma série de regramentos que não mudam da noite para o dia – afirmou o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Junqueira, em entrevista à Reuters.
O plano anterior teve volumes recordes de 187,7 bilhões de reais, anunciados em junho do ano passado, mas com uma maior oferta de financiamentos a juros livres de mercado.
Incertezas sobre aquele plano, ao longo do primeiro semestre de 2015, além de atrasos na antecipação de recursos, travaram muitos negócios de aquisição de máquinas e insumos para a nova safra, numa prova da grande relevância das linhas de crédito oficiais para a agricultura do Brasil.
Segundo Junqueira, os compromissos são estabelecidos com o Banco do Brasil, o principal financiador do agronegócio, e com os ministérios do Planejamento e da Fazenda, enquanto a pasta da Agricultura aponta as necessidades de recursos ou eventual mudança na alocação.
- Entendo que esse processo já está encaminhado, então todas as discussões já estão sendo feitas. Imagino que ninguém vai jogar tudo isso para cima, assumindo que a ministra (Katia Abreu) é senadora e que a bancada do agronegócio tem bastante força – acrescentou.
Ele ressaltou ainda que, na atual condição econômica, não há expectativa de um juro controlado mais baixo em 2016/17.
CONFIANÇA EM KATIA
Já o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga, teme pelas consequências de uma presidente “desalojada do poder”, caso Dilma venha a ser afastada do cargo enquanto o processo de impeachment se desenrola, mas ele acredita a ministra Katia Abreu deve garantir a liberação do plano.
- É uma situação complicada para o agronegócio, para toda a economia, mas para o agronegócio é mais ainda, porque tem um calendário (de plantio). A gente tem esperanças de que a ministra Katia, comprometida com o agronegócio, vai conseguir liberar o plano safra dentro de determinados parâmetros – disse Alvarenga, lembrando que Katia Abreu está apoiando Dilma Rousseff.
Já a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que, considerando que o assunto é de grande importância para o país, terá encaminhamento satisfatório.
- É um tema exclusivamente técnico, esperamos que seja priorizado… É lógico que depende de negociações políticas, mas tem 90 por cento do plano que é possível tocar no âmbito técnico – afirmou o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, lembrando que o presidente da instituição, que se posicionou também a favor do impeachment, pediu para que todas demandas sigam sendo enviadas ao governo.
Na semana que vem, a CNA espera apresentar todas as demandas ao Ministério da Agricultura. Lucchi não entrou em detalhes sobre os valores.
Já a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) avalia que, apesar do “vazio” que pode acometer o governo durante a crise política, o setor contou este ano com uma espécie de colchão dos recursos do pré-custeio, que somaram 10 bilhões de reais, liberados em fevereiro.
- Este ano tem um atenuante que foi o pré-custeio… Tanto que a compra de insumos foi bem, em março foi bem, pelo menos o insumo está sendo comprado – disse o diretor-executivo da Abag, Luiz Cornacchioni.
Ele afirmou ainda que há esperança de que, por ter havido o pré-custeio, o agricultor chegue com um pouco mais de caixa para feiras de equipamentos agrícolas como a Agrishow, de Ribeirão preto, no final deste mês, apesar da crise.
Fonte: Reuters