E o sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) incentiva a consorciação da lavoura com capim, a rotação e a sucessão de culturas e a produção de animais a pasto, de tal modo que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano. Estes assuntos foram discutidos no primeiro Seminário e Dia de Campo de 2016 sobre ILP, na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Sete Lagoas-MG.
O evento foi organizado pela Embrapa Milho e Sorgo e parceiros e recebeu mais de 100 pessoas, entre autoridades municipais, produtores rurais, técnicos extensionistas e estudantes. No período da manhã, os pesquisadores da Embrapa apresentaram três temas no seminário.
O primeiro assunto foi "Plantabilidade", apresentado pelo pesquisador Evandro Chartuni Mantovani. Ele ressaltou que o tema plantabilidade é recorrente e desde a década de 80 este problema tem sido discutido. "Toda vez que se fala em plantabilidade, falamos do início da atividade de plantio. Na realidade, trata-se da interação de vários fatores com o objetivo de obter maior produtividade e reduzir os custos de produção. Entre os fatores envolvidos, o principal desafio é estabelecer um estande inicial adequado da lavoura, por representar cerca de 70% dos investimentos dos custos de produção aplicados", explicou.
Segundo Mantovani, os novos cultivares de milho permitem populações, na lavoura, de 70 a 80 mil plantas por hectare, com redução do espaçamento para 50 centímetros. As pesquisas na Embrapa Milho e Sorgo e os testes de campo de semeadoras para milho, em parceria com a ABIMAQ, no período de 1986 a 1992, resultaram em uma série de melhorias nos equipamentos de plantio, para solução dos problemas tecnológicos. Como consequência disso, na década de 90 as empresas de máquinas promoveram uma série de inovações em seus equipamentos, para melhorar a performance em seus equipamentos de plantio. Naquela época, a recomendação de estande era para 40 a 60 mil plantas por hectare.
"Nestes trabalhos, foram desenvolvidas metodologias para recomendação de disco de plantio e da quantidade de grafite em sementes tratadas com inseticidas, para a regulagem da semeadora. Para as populações de alta densidade, de 70 a 80 mil plantas por hectares, a Embrapa Milho e Sorgo fez novos testes, em 2012. Foram testes com uma semeadora-adubadora, com quatro sistemas de distribuição de sementes, em três velocidades de plantio, visando estabelecer a população recomendada de plantas", disse Mantovani.
Finalizando, Mantovani apresentou a metodologia da Embrapa Milho e Sorgo para a escolha do disco de plantio, em comparação com a tabela oferecida pelos fabricantes e as consequências econômicas, com a redução do estande planejado para a cultura.
A cultura do sorgo na ILP
O segundo tema abordado no seminário foi "A cultura do sorgo na integração lavoura-pecuária (ILP). O pesquisador da Embrapa Ramon Costa Alvarenga falou das potencialidades da cultura do sorgo para sistemas ILP, com destaque das características do sorgo que fazem a diferença e que dão grande flexibilidade ao produtor na hora de planejar as suas lavouras.
O pesquisador ressaltou que o sorgo é uma cultura favorável para a região central de Minas Gerais, que atualmente, tem um veranico muito acentuado, o que torna as condições de plantio mais complexas. E o cultivo do sorgo pode atender as demandas em forragem conservada (silagem) para alimentar os animais no período mais seco do ano e até mesmos para a produção de grãos e forragens de pastejo direto.
"Podemos agregar um diferencial certeiro para garantir a produtividade na lavoura. Nesta região não há muita tradição no plantio de grãos. A atividade mais forte é a pecuária leiteira. Por isso, os agricultores se preocupam em produzir uma silagem de qualidade", disse.
Segundo Ramon Alvarenga os modernos materiais de sorgo aliam alta produção de massa seca e de grãos que resultam em silagem em quantidade e qualidade. Os produtores são incentivados, também, a alternar a lavoura com a pastagem. "Isto é uma oportunidade de conservar um pouco mais a água no solo. O Estado de Minas Gerais tem quase 20 milhões de pastagens degradadas. A reforma destas pastagens com a ILP resulta em melhoria de qualidade", afirmou o pesquisador.
Análise econômica e conjuntura da produção de leite e silagem
Já o pesquisador Rubens Augusto de Miranda apresentou um quadro conjuntural da produção de leite, dado que este é o setor, na região Central de Minas, com mais produtores interessados em ILP. Além disso, o pesquisador também falou da produção de milho e sobre os custos de produção da silagem de milho.
Segundo Rubens Miranda, o mercado do leite passa por uma crise que não é apenas doméstica, mas atinge todo o globo, apesar de motivos distintos. Enquanto que os problemas lá fora estão relacionados com excesso de oferta e preços deprimidos em níveis historicamente baixos, internamente as dificuldades estão relacionadas à rentabilidade do setor frente ao aumento acentuado dos custos de produção.
Rubens argumenta que os problemas de rentabilidade resultaram na primeira redução na produção de leite sob inspeção no Brasil, no levantamento realizado pelo IBGE, caindo 2,8% em 2015. Essa queda proporcionou uma ligeira melhora nos preços do leite no final de 2015 e início de 2016, mas insuficiente para compensar o aumento de custos, que tem o milho como grande vilão. O pesquisador mostrou que 60% dos custos de produção se referem à alimentação. Deste percentual, 2/3 constituem a alimentação concentrada, onde entra o milho grão. "O cenário cambial favorável às exportações, com o dólar em alta, fez a demanda pelo milho explodir. O resultado é que os preços do milho em todo o país atingiram patamares nunca antes vistos."
O aumento do grão de milho tem penalizado consideravelmente a atividade leiteira. Entretanto, na região de Sete Lagoas, o problema nacional com valor do milho grão foi parcialmente diminuído pelo excesso de produção de silagem. Teoricamente, o preço da silagem deveria estar atrelado ao preço do grão. Usando uma regra simples de precificação, que considera o percentual de matéria seca, o percentual de grãos presente e o preço do grão na região, Rubens mostrou que o preço base da silagem de milho deveria ser de R$ 175,00. Entretanto, encontra-se silagem sendo vendida abaixo desse valor base. Essa situação é diretamente vinculada ao excesso de oferta e ajuda a atenuar a escalada dos custos de produção da atividade leiteira.
Por fim, o pesquisador fez uma análise dos custos de produção de silagem de milho, mostrando que a atividade pode ser lucrativa, mesmo negociada abaixo do preço base. Além disso, pontuou que nesse cenário de custos altos, o produtor tem que maximizar o potencial do seu pasto, algo proporcionado pela Integração Lavoura-Pecuária.
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo
Fonte: Canal do Produtor