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CAMINHO CERTO PARA RECUPERAR ÁREA DEGRADADA E AINDA LUCRAR

Em tempos em que o governo do Estado lança programa visando a recuperação de pastagens degradadas – e a área degradada não é pequena em MS –, a divulgação de um sistema capaz de recuperar 3 milhões de hectares por um método de integração, que prevê o cultivo de pasto seguido do cultivo de soja, é uma excelente notícia, sem dúvida.

O chamado Sistema São Mateus, experimento de sucesso desenvolvido na Região do Bolsão, no município de Selvíria, foi desenvolvido para áreas de solo arenoso principalmente, embora possa ser aplicado também em outras regiões do Estado com tipo de solo diferente.

Importantes são os resultados obtidos com a tecnologia. Já no primeiro ano de implantação do Sistema São Mateus, a fazenda que deu nome ao sistema teve rendimento de aproximadamente 40 sacas por hectare (sc/ha), em uma área inicial de 150 hectares. “Isso foi suficiente para pagar os gastos com a implantação do sistema, como insumos para correção química do solo, aquisição de sementes de pastagens adequadas ao solo arenoso e de sementes de soja”, conta Mateus Arantes, um dos administradores da São Matheus. “Nessa última safra de soja [2015/2016], conseguimos 62 sc/ha em uma área de 600 hectares e isso não significa que não podemos melhorar esses números”, completa.

Para se ter uma ideia de quanto esses valores são positivos, em áreas onde o solo é mais argiloso, propício para o cultivo da soja em Mato Grosso do Sul, o rendimento médio da soja é de 52 sc/ha.

TRÊS VEZES MAIS CARNE

Os números da produção de carne na Fazenda São Matheus também impressionam. A média de produção antes do SSMateus ficava entre sete e oito arrobas de carne/ha/ano. Esse número saltou para uma média de 25 arrobas de carne/ha/ano. A média de precocidade para o abate de 70% das novilhas reduziu cerca de dez meses. A lotação é de seis cabeças/ha na época das águas e de 2,5 cabeças/ha na época da seca. “Por opção da fazenda, não damos suplementação ao gado e não criamos gado confinado”, afirma Arantes.

Tradicionalmente, os outros modelos de ILP iniciam a sequência de rotação pela agricultura, para depois incorporar a pastagem. No Sistema São Mateus, a sequência começa pela pastagem (pasto-soja). Com o início pelo pasto, após a correção química do solo, haverá tempo suficiente para os corretivos reagirem, para o sistema radicular da pastagem construir uma estrutura de solo favorável à manutenção de umidade e o pasto formar palha necessária para o plantio direto da soja.

A tecnologia, que introduziu o componente soja no sistema, foi aperfeiçoada levando-se em conta não somente os solos arenosos (pobres em nutrientes e com menor capacidade de reter a água da chuva no solo), mas a distribuição irregular das chuvas ao longo do ano na região, com veranicos no período chuvoso.

No primeiro ano de implantação do SSMateus, é feita a correção química e física do solo para entrar a pastagem. Após um ano, o pasto reformado é dessecado para a entrada da primeira safra de soja. A pastagem de boa qualidade produz palhada com um sistema radicular mais profundo. “Isso possibilita formar um reservatório de água da chuva, porque o solo está com uma nova estrutura que permite armazenar essa água. Nesse ambiente, a soja tem uma boa chance de produzir. Em média, a produtividade no SSMateus foi de 42,8 sacas por hectare”, diz Júlio Cesar Salton, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste. Contudo deve-se destacar que, este ano, a produtividade da fazenda foi de 62 sc/ha, conforme Mateus Arantes. Após a recuperação, a rotação é feita com ciclos sucessivos de um ano de soja e dois de pastagem.

A fim de comparar com o plantio tradicional na mesma URT, foi montado um experimento paralelo com o cultivo de soja convencional, sem pastagem. Nos chamados veranicos (período de estiagem durante a estação chuvosa), houve quebra em quase todas as safras de soja. Já nas áreas com a integração, todas as safras produziram grãos, mesmo em períodos com pouca oferta de chuva para o enchimento dos grãos.

MENOS PLANTAS DANINHAS

Para esse modelo de ILP, em que os solos apresentam baixa quantidade de argila, a pastagem mais adequada é a Brachiaria brizantha (no experimento da Embrapa, foi escolhida área com 9% de argila somente). Para solos melhores, o pesquisador Ademir Zimmer, da Embrapa Gado de Corte, indica também forrageiras do gênero Panicum.

Com o incremento na matéria orgânica e o aumento na profundidade do sistema radicular nos solos arenosos, a produção de pasto é de melhor qualidade. “Depois que a soja estiver no sistema, a pastagem que vem em seguida vai se beneficiar da soja, tornando-se um pasto muito mais produtivo”.

Zimmer ressalta outro ponto positivo do manejo da pastagem dentro do Sistema São Mateus. “Observamos a redução de 80% a 90% de plantas daninhas em locais onde há braquiária. No caso das doenças, uma pastagem de qualidade quebra o ciclo de verminoses e carrapatos. Outro ponto importante é que ao colocar o boi para pastejar temos melhores resultados, porque isso favorece a produção dos grãos de soja cultivados na sequência, além de reduzir os insumos na dessecação. Tudo isso ajuda tanto no equilíbrio ambiental, como também na redução dos custos de produção”, explica o pesquisador.

Mas por que a soja e não outra cultura? O pesquisador Rodrigo Arroyo explica que o primeiro benefício é que a oleaginosa possui uma boa rentabilidade econômica e dispõe de infraestrutura para comercialização em diversas regiões. “Segundo, é que a soja deixa resíduos de adubos e nitrogênio no solo, de forma gratuita, que serão aproveitados pela pastagem. E a pastagem possui uma demanda alta por nitrogênio. Existe também bastante tecnologia desenvolvida para a soja com diversas opções de cultivares. Tudo isso facilita o manejo”, afirma Arroyo.

PRODUTOR AINDA RECEBE INCENTIVOS

Além dos ganhos incontestes em produtividade, o produtor ganha incentivos fiscais. Um projeto da Secretaria de Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul (Sepaf), com duração prevista de cinco anos, dará isenção de 33,34% do ICMS incidente sobre a produção incremental de carne advinda de exploração de áreas de pastagens recuperadas e isenção de 50% do ICMS incidente sobre a produção de grãos comercializada também de áreas recuperadas − as isenções serão referentes à exploração de áreas de pastagens recuperadas por meio da integração lavoura-pecuária (ILP) e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), neste período de cinco anos.

Fonte: Correio do Estado

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Fonte: Sistema FAEP



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