Os produtores que embarcam todos os anos rumo a Não-Me-Toque buscam inovações para qualificarem a produção e aumentarem a rentabilidade. Cada vez mais, a Expodireto-Cotrijal se consolida como uma das principais feiras do país para lançamentos de biotecnologias. É na feira que empresas brasileiras e grandes multinacionais do setor apresentam aos produtores rurais as novidades do ano que prometem impulsionar a produtividade das lavouras.
Mayra Dettmer, produtora de Palmeira das Missões, diz que rentabilidade cresceu 20% com adoção de novas tecnologiasFoto: Diogo Zanatta / Especial
Em um ano em que a renda no cultivo de milho superou a de soja, uma das apostas da Monsanto foi a tecnologia para o milho VTPRO 3, que promete aumentar o potencial produtivo da lavoura ao dar uma proteção extra para a raiz da planta. Em vez de defender apenas a parte aérea do vegetal contra as pragas, a novidade impede que a larva-alfinete, uma das mais comuns na região Sul do país, se alimente da parte subterrânea do pé de milho – o que prejudica a absorção de água e nutrientes e interfere no crescimento da planta. As larvas, que saem dos ovos colocados na base do vegetal, consomem a raiz, matando as plantas recém germinadas ou deixando-as mais suscetíveis a estiagens e acamento.
- A tecnologia melhora a produtividade e o produtor percebe isso. Em alguns casos, o ganho foi de 5,5 sacas por hectare, mas teve situações em que o avanço chegou a 20 sacas. Adotando boas práticas de manejo e seguindo as instruções técnicas, a melhora é significativa – afirma Guilherme Lobato, gerente de tecnologia milho da Monsanto.
Depois de ser utilizada na safrinha, no Cerrado, a semente teve seu primeiro ano comercial na safra de verão 2015/2016. Mais de 7 mil produtores adotaram a tecnologia neste ano. Uma delas foi Mayra Dettmer, de Palmeiras das Missões. Engenheira agrônoma, a jovem, de 26 anos é uma das responsáveis por administrar a propriedade da família, situada no Noroeste gaúcho.
- Tivemos um ganho em sanidade e também na rentabilidade da lavoura, algo em torno de 20% – conta.
Frequentadora da Expodireto há pelo menos cinco edições, Mayra ressalta a importância de investir em tecnologia mesmo quando há pressão nos custos, como no último ano.
-É preciso pensar em produtividade. Você pode tentar barganhar em outros insumos, talvez, mas não em biotecnologia. É um movimento quase involuntário, o produtor precisa estar atento para conhecer as novidades – ressalta.
Tecnologia e manejo
Eduardo Cairão, melhorista pesquisador da Embrapa ressalta que a biotecnologia é mais uma ferramenta para aumentar a produtividade das lavouras, mas que o produtor não deve depositar toda a esperança no melhoramento genético: boas práticas de manejo também são fundamentais para melhorar os ganhos.
- São ações que andam juntas, uma não existe sem a outra. A biotecnologia acelera resultados, ajuda a superar obstáculos na lavoura, mas precisa estar associada a uma série de práticas – afirma.
Gelson Lima , supervisor de produção agropecuária da Cotrijal, afirma que o melhoramento genético das sementes é um fator-chave para o ganho de rentabilidade, mas não é o único: pelo menos outros 52 fatores – da biotecnologia ao manejo – podem contribuir para potencializar a produtividade nas lavouras e que com o avanço das pesquisas no setor é difícil imaginar um teto para a produção.
- Em 1982, a média de produção era de 26 sacas por hectare, em 2011 chegamos a 53. Hoje já temos produtores produzindo mais de cem. Nosso objetivo é diminuir cada vez mais a distância entre o potencial genético das culturas e o resultado obtido pelos agricultores – afirma.
Outro ponto importante é usar o produto certo para determinada praga.
- A tecnologia é voltada para uma espécie específica, é preciso conhecer cada praga. Não adianta comprar o produto errado – diz Bruno De Conte, supervisor do insetário da Monsanto.
Nova cultivar transgênica deve sacudir mercado de soja
Um dos lançamentos que mais gerou curiosidade entre os produtores na Expodireto foi a chegada no circuito comercial da soja transgênica da Bayer – mais uma multinacional que passa a deter a biotecnologia – por mais de 10 anos nas mãos de uma única companhia. A empresa promete uma cultivar tolerante a produtos com glufosinato de amônio, mas o sucesso depende dos preços, cujos valores serão definidos em três meses.
Produtor de Palmitos (SC), Alcemir Restelli busca solução para evitar ervas daninhas nas lavouras de soja e milhoFoto: Diogo Zanatta / Especial
Resultado de quase 10 anos de pesquisa, a biotecnologia, que ganhou o nome de Liberty Link, é uma alternativa para combater ervas daninhas cada vez mais resistentes. Diretor de negócios de soja da Bayer, Hugo Borsari, evita falar em fatia de mercado a ser conquistada.
- Ervas daninhas são um problema crescente, limitam muito a produtividade da lavoura e muitas vezes o produtor nem imagina a intensidade do problema.
Dono de uma propriedade de 90 hectares em Palmitos (SC), Alcemir Luiz Restelli, 45 anos, foi a Não-Me-Toque conhecer de perto a nova biotecnologia. Enfrentando problema com ervas daninhas, principalmente buva, azevém e corda-de-viola, o produtor procura alternativa para aumentar a produtividade nas lavoura de soja e milho. No próximo ciclo, pretende dedicar pelo menos um quinto do terreno para a nova variedade.
- Estou curioso para saber como o produto se adaptará na propriedade – diz.
Fonte: Zero Hora