Mudanças no calendário de plantio, maior incidência de doenças e ameaça às áreas que estão em ponto de colheita. O excesso de chuvas prejudica a safra de grãos do Paraná do início ao fim. Causada pelo El Niño, a combinação de alta umidade e baixa insolação reduziu a produtividade das lavouras já colhidas e desperta incertezas quanto ao desempenho das plantas que ainda permanecem no solo, conferiu a Expedição Safra Gazeta do Povo em roteiro de 1,3 mil quilômetros pelo estado.
Os problemas começaram no plantio.
- A chuva impediu a semeadura na época ideal e isso impactou a produtividade – comenta o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Paraná (Aprosoja-PR), José Sismeiro.
Nos 450 hectares dedicados à oleaginosa em Goioerê (Centro), ele colheu 62 sacas por hectare, 15% menos em relação a temporada 2014/15.
O fato se agravou na fase de desenvolvimento das lavouras, já que a falta de sol enfraqueceu as plantas.
- Novembro e dezembro registraram os menores índices de insolação desde 1979 – pontua o chefe da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) em Pato Branco (Sudoeste), Ivano Carniel. Com os solos encharcados, o enraizamento também não foi o ideal.
Desempenho
Agora o excesso de água volta a ser ameaça para soja que está no campo. Na região de Maringá (Norte), 80% das áreas da Cocamar foram colhidas. Da parcela restante, 14% estão prontas para receber as colheitadeiras nos próximos dez dias.
- Se não colher logo com certeza haverá perdas, mas ainda é difícil quantificar o dano – aponta o coordenador técnico da cooperativa, Emerson Nunes.
Com rendimento médio de 51,6 sacas/ha, há quebra de 5% em relação ao potencial inicial.
O mesmo ocorre na região de Campo Mourão (Centro), onde a Coamo ainda tem metade das áreas por colher.
- Com mais umidade o grão pode querer germinar, gastando energia. Isso reduz o rendimento da soja na indústria. As chuvas das últimas duas semanas já nos dão perdas – detalha o gerente de assistência técnica da cooperativa, Marcelo Sumiya.
Até agora, a Coamo registra produtividade média de 53,3 sacas/ha, abaixo de 2014/15.
O quadro gera decepção para produtores como os irmãos Onivaldo e Osvaldo Dante, de Cambé (Norte). Eles temem que a chuva faça os grãos de soja germinarem. Somente 240 dos 590 hectares destinados à oleaginosa foram colhidos.
- É uma pena, pois a produtividade poderia passar de 70 sacas por hectare se não fosse o clima – lamentam.
No rastro da soja, milho pede janela ampliada
A alta recente nos preços do milho deu fôlego extra ao plantio da segunda safra. Produtores que inicialmente não tinham interesse na cultura voltaram atrás, o que pode ser comprovado na demanda por sementes. Isso ocorre mesmo em regiões onde o zoneamento agrícola já não recomenda o plantio.
- Como tivemos exportações acima do esperado, os preços do milho não devem ceder até a colheita, entre junho e julho. O pessoal está pedindo mais sementes, mas só quem quer arriscar está plantando agora – detalha o presidente da Coopavel (Cascavel), Dilvo Grolli.
Nas regiões onde o plantio ainda é viável, o desafio é encontrar insumos e garantir o avanço da colheita da soja para dar espaço ao cereal.
- Quem decidiu plantar na última hora enfrentou mais dificuldade em achar semente e teve que plantar a variedade disponível – detalha o gerente agrícola da Castrolanda (Castro), Márcio Copacheski.
Além do risco econômico, também há foco no clima.
- Normalmente a safrinha estaria plantada até 5 de fevereiro. Mas , com a chuva, o atraso passa de 15 dias – diz Laércio Pereira da Silva, que ainda pretende semear 450 hectares do cereal em Goioerê (Centro). – Tem que plantar, porque a semente e o adubo já estão comprados – revela.
Nos bastidores, já se cogita a solicitação de uma extensão da janela de plantio junto ao governo federal.
- A preocupação é o frio, pois até meados de junho não pode haver geada, senão o estrago é grande – pondera o presidente da Aprosoja Paraná, José Sismeiro.
Fonte: Gazeta do Povo