Após duas safras consecutivas com altas médias de produtividade e preços, os agricultores gaúchos investiram pesado em tecnologia de insumos e de máquinas neste plantio de soja. Além de acreditarem na sequência positiva, a aposta serve ainda como forma de recuperar as perdas de produção e na qualidade do trigo, provocadas pelo excesso de chuva durante o inverno. Conforme o diretor da Cerealista Capaz, que tem unidades em Espumoso, Salto do Jacuí e Soledade, Juliano Camargo Pazinato, o potencial de produtividade na região chega a 65 sacas/ha.
– Foi um plantio de alta tecnologia. Para quem fez a compra de insumos para a lavoura no cedo, a relação de troca com o valor da soja era boa, mas o cenário mudou depois da alta do dólar e a queda do valor da soja em Chicago – analisa o engenheiro agrônomo.
Segundo levantamento da Emater, a área destinada a principal cultura do Estado será histórica com 5,12 milhões de hectares – representando um aumento de 2,86% na comparação com o último plantio que foi o maior até o momento. O rendimento médio esperado também será superior com 2.780 kg/ha (46,33 sacas/ha) contra a produtividade de 2.617 kg/ha (43,61 sacas/ha) obtidos na temporada 2013/14. Se a estimativa da Emater for confirmada, a safra gaúcha será a maior de todos os tempos com 14,25 milhões de hectares – 9,26% acima da colheita recorde anterior que alcançou 13,05 milhões de toneladas. Esses números são muito semelhantes a projeção da Corretora Brasoja que também calcula uma produção acima de 14 milhões de toneladas. De acordo com o diretor da Brasoja, Antonio Sartori, o crescimento tem relação direta com o aumento do plantio do grão na metade sul do Estado – nos últimos quatro anos, o cultivo saltou de 65 mil hectares para 600 mil hectares naquela área.
– As terras de várzea estão migrando para o cultivo de soja e, neste ano, o plantio na metade sul pode chegar a 1 milhão de hectares – destaca Sartori.
Já na metade norte do Estado – principal região produtora de soja –, a oleaginosa está ocupando, cada vez mais, o espaço do milho, devido à relação custo da lavoura e à cotação do produto. Esta é a terceira safra que o produtor rural Altemir Luiz Ceolin deixa de plantar o cereal para destinar exclusivamente os 1.000 hectares de lavouras, nos municípios de Passo Fundo e Pontão, para a soja na safra de verão.
– O desembolso do milho é muito alto. Eu sempre faço o seguinte cálculo: vale a pena plantar milho quando a cotação for acima da metade do preço da soja e ultimamente não está valendo a pena – revela Ceolin, que pretende colher acima de 60 sacas/ha e ultrapassar as 56 sacas/ha obtidas no período anterior que foi prejudicado pela quebra na cultura do cedo, devido à estiagem.
A INFLAÇÃO DA LAVOURA
Os irmãos Luciano e Marcos Antonio Zuchelli, de Espumoso, repetiram neste ano a área destinada à soja – 530 hectares – e esperam colher em torno de 65 sacas/ha. O que mudou foram os gastos com a lavoura. Luciano recorda que em 2004 venderam a produção por R$ 52,50/saca, mas de lá para cá os custos de produção dispararam.
– Em 10 anos tudo aumentou de preço: alguns insumos dobraram de valor e também subiu muito o salário dos trabalhadores, o combustível e o maquinário agrícola – compara Luciano.
Para enfrentar a oscilação do mercado e a inflação dos insumos da lavoura, Ceolin tem uma estratégia para ter rentabilidade: a moeda de compra deve ser sempre a própria soja.
– Eu não olho se está custando em dólares ou reais. Quando o adubo, por exemplo, estiver abaixo de 18 sacas/tonelada é hora de comprar – explica Ceolin, que tem todos os gastos na ponta do lápis. Para este plantio, ele comprou adubo por 16 sacas/tonelada, porém dois itens inflacionaram os gastos na propriedade: os combustíveis saltaram de 1,5 saca/ha, na safra passada, para 2,8 sacas/ha, neste ano, e o valor da semente triplicou, passando de 1,5 saca/ha para 4,5 sacas/ha.