As usinas de cana do Brasil terão uma queda nas receitas com a energia elétrica neste ano, diante de projeções de baixos preços no mercado spot de eletricidade que desestimularão vendas, após a cogeração ajudar a aliviar balanços do setor em 2015, em meio a preços menores do açúcar.
As usinas geralmente produzem energia para suprir o próprio consumo em suas caldeiras, mas muitas delas possuem também contratos de longo prazo para vender parte da produção às distribuidoras.
Há também a possibilidade de produzir além da demanda e dos contratos para vender a energia no mercado spot, mas o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), utilizado nessas operações, deverá ficar em 30 reais por megawatt-hora em 2016 e até meados de 2017, segundo projeção da Câmara de Comercialização de Energia Elétricas (CCEE) –ante média de 288 reais em 2015 e 690 reais em 2014.
- As usinas estavam queimando qualquer coisa (nas caldeiras para gerar energia) porque o preço alto justificava. O preço altera a viabilidade dessa geração extra por parte dos usineiros – disse o diretor da consultoria especializada em preços de energia Dcide, Patrick Hansen.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), já é possível notar uma desmobilização desses esforços das usinas por mais produção de eletricidade.
- Com o PLD em 30 reais, essa operação de geração adicional acabou sendo desmontada. Em janeiro, as usinas já geraram 17 por cento menos que em janeiro de 2015. Não há estímulo para essa geração extra – disse o gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza.
A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, já apresentou redução de 10 por cento na receita com cogeração de energia entre outubro e dezembro de 2015, ante mesmo período de 2014, para 167 milhões de reais, segundo balanço divulgado na semana passada.
Na época, o PLD variou em média entre 212 reais e 116 reais, ante uma média próxima dos 727,5 reais no último trimestre de 2014.
Custo Maior que o preço
O diretor da comercializadora de energia Delta, Geraldo Mota, disse que usinas com sistema de condensação conseguem gerar energia a um break-even de cerca de 30 reais por megawatt-hora, enquanto sistemas de contrapressão produzem a custo de 50 reais de megawatt-hora, considerando o uso de bagaço próprio.
Mota também estimou que os preços spot devem continuar baixos “nos próximos três ou quatro anos”, dada a expectativa de pouco crescimento da demanda por energia em um cenário de baixa atividade econômica.
- As usinas vão produzir o mínimo (de energia) necessário para atender os contratos de açúcar e alcool… isso cria até um incentivo para as usinas de cogeração pararem de produzir e passem a comprar energia no mercado – disse.
Zilmar, da Unica, lembrou que a geração de caixa com energia ajudou a indústria em uma época de preços baixos do açúcar.
- Em 2014, início de 2015, a energia ajudou a melhorar a receita média do setor sucroenergético… o setor pensa num portfólio açúcar, etanol e energia – explicou.
A mudança de cenário já reduziu a procura por compras de biomassa, que estiveram em alta nos últimos anos conforme os usineiros tentavam produzir energia acima dos contratos.
Além do bagaço de cana, mais comum, as usinas podem queimar outros materiais para a cogeração, como casca de arroz e madeira.
- Muita empresa com excedente de madeira, que vendia, hoje está ficando com isso estocado. Ninguém tem interesse em comprar essa madeira excedente para queimar – disse Mota, da Delta.
Ele estimou que a geração com biomassa comprada de terceiros pode ter um custo de entre 100 e 200 reais por megawatt-hora, dependendo do sistema da usina, um patamar inviável diante dos preços atuais.
A Unica estima que as usinas a biomassa tenham produzido 22,6 mil gigawatts-hora em 2015, ou 5 por cento da demanda do país.
Fonte: Reuters