Há cinco safras “derrapando”, a produção de açúcar do Brasil, maior exportador global, volta a fazer barulho no mercado. Um volume recorde de cana estará disponível para moagem no Centro-Sul do país em 2016/17 e, com isso, a produção da commodity poderá crescer até 4,9 milhões de toneladas em relação a 2015/16, conforme as estimativas até agora divulgadas.
Influenciadas por essas projeções, as cotações do açúcar na bolsa de Nova York recuaram 15% desde o início deste ano, conforme cálculos do Valor Data. Mas, pelo menos por ora, esse declínio não preocupa as usinas brasileiras, que já venderam antecipadamente 60% do açúcar que vão exportar em 2016/17.
Esse fator de pressão tende a perdurar, mas o espaço para novas quedas – se é que elas acontecerão – já começa a ser definido pelas previsões de clima para o Centro-Sul e pelo mercado de etanol, cujo consumo bateu recorde em 2015. Mas é consenso entre as principais consultorias e tradings que atuam no ramo que em 2016/17 haverá volumes de cana nunca antes vistos na região (até 650 milhões de toneladas), o que tende a inflar a oferta de açúcar.
Segundo a FG Agro, localizada em Ribeirão Preto (SP), o mais tradicional polo canavieiro do país, se as usinas do Centro-Sul destinarem 44,4% do caldo da cana para fabricar açúcar em 2016/17 (ante 40,9% em 2015/16), a produção da commodity pode chegar a 35,6 milhões de toneladas, o que seria um recorde – o anterior, de 34,4 milhões de toneladas, foi no ciclo 2013/14.
A estimativa considera que as usinas da região vão conseguir processar 635 milhões de toneladas de cana, de um total de 650 milhões que estarão disponíveis. A premissa é que a moagem vai ocorrer por 204 dias, 11 dias a mais que na temporada atual.
Ainda que se confirme esse cenário de grande produção de açúcar, a consultoria não vê “ameaças” ao primeiro déficit global em cinco safras, previsto para esta “safra internacional” 2015/16, que termina em 30 de setembro. “O mercado sabe que o déficit será crescente [o consumo mundial tem crescido de 2,5 milhões a 3 milhões de toneladas por ano]. E isso dará sustentação aos preços da commodity no longo prazo”, afirma o diretor da FG Agro, Gustavo Torrano Corrêa.
Por outro lado, pesa na balança “altista” da commodity o fato de que cerca de 60% do açúcar que o Brasil deverá exportar em 2016/17 já foi vendido antecipadamente. Na prática, isso significa uma menor pressão de venda no mercado internacional no próximo ciclo, na medida que o maior exportador global terá somente 40% de seu excedente exportável a ofertar.
Mas, se por alguma razão as cotações do açúcar caírem em demasia, reduzindo a rentabilidade das usinas – o que Corrêa considera improvável -, a safra do Centro-Sul poderá “virar” para o etanol. Nesse cenário, o “mix” seria de 41% para açúcar, e não mais 44,4%, e a produção da commodity seria de 33 milhões de toneladas. A produção adicional de etanol, por sua vez, cresceria 150 milhões de litros por mês.
“Não seria um problema para o mercado absorver essa oferta adicional sem afetar de maneira significativa os preços”, avaliou Corrêa. Mesmo porque no primeiro cenário, mais açucareiro, já é considerada uma oferta bem “curta” de etanol – 27,6 bilhões de litros, praticamente a mesma de 2015/16.
A maior parte das consultorias prevê uma produção de açúcar no Centro-Sul em 2016/17 mais próxima de 34 milhões de toneladas. Estão nessa lista a brasileira Datagro, a americana FCStone, a trading francesa Sucden (34,3 milhões) e o banco holandês Rabobank (34 milhões).
Mas são números que ainda podem mudar. A Kingsman enxerga que a oferta maior no Brasil reduzirá o déficit mundial em 2015/16. Em dezembro, projetou que a demanda superaria a produção em 5,26 milhões de toneladas, mas em janeiro, baixo o número para 4,8 milhões.
Fonte: Valor Econômico
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