Produtor de trigo há 25 anos, Carlos Alberto Catapan deixará de plantar o cereal pela primeira vez neste inverno. Com a lembrança da frustração da safra passada e contas a pagar, o agricultor preferiu não arriscar.
— A chance de prejuízo é grande. O custo de produção passa de 50 sacas por hectare — lamenta.
Com lavoura em Passo Fundo, ele costumava plantar 15 hectares de trigo e 15 de aveia para grão no inverno, deixando 20 hectares para pastagem. Neste ano, resolveu eliminar a área de trigo e substituir por aveia para cobertura de solo.
— Não posso remar contra a maré. Não há incentivo nem garantias — reclama.
Em 2014, Catapan colheu média de 32 sacas por hectare e vendeu a saca por menos de R$ 25. Ao acionar o seguro rural, recebeu menos de 25% do valor investido para custeio. O preço mínimo da saca de 60 kg de trigo, com o reajuste anunciado segunda-feira pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, é de R$ 34,95 na Região Sul (tipo 1, classe pão).
A decisão dele não é isolada. A frustração da safra passada e a alta nos custos de produção agora, em razão da valorização do dólar frente ao real, devem reduzir a área cultivada. A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro) estima queda de 20% — mais de 200 mil hectares ficariam em pousio (sem cultivo) ou com aveia para cobertura de solo.
— O produtor está muito descrente com o trigo — afirma o presidente da Fecoagro, Paulo Pires.
O custo de produção maior deve-se à alta do dólar, já que o valor dos principais insumos acompanha a cotação da moeda americana. Para cobrir o gasto maior, o setor reivindicava reajuste de 19% no preço mínimo a partir de 1º de julho, elevando a R$ 665 a tonelada. Mas a reivindicação não foi atendida pelo governo.
Em 2014, a produção de trigo teve queda superior a 50% no Estado e boa parte do que sobrou sequer teve qualidade para moagem. De 1,5 milhão de tonelada colhida em 2014, quase 1 milhão teve de ser exportada para países africanos e asiáticos. Com nível de micotoxina acima do permitido pela lei, o cereal não pôde ser destinado nem para ração animal no mercado interno.
— A perspectiva é muito ruim. Mesmo quem plantar poderá ser obrigado a reduzir tecnologia para fazer frente aos custos — avalia Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Farsul.
Fonte: Zero Hora