Nesta safra, Mato Grosso tem vivido momentos extremos em relação ao clima. Depois da forte estiagem que atingiu as principais regiões produtoras de soja na época do plantio, agora veio a chuva bem na hora da colheita. O resultado é a calmaria nas áreas onde as máquinas deveriam estar a todo vapor.
Em Primavera do Leste, a chuva encharcou a lavoura e interrompeu os trabalhos.
- Se ficar mais dias assim, a soja começa a passar o prazo de colheita e começa a estragar – diz o agricultor Canísio Fróelich.
Na fazenda Buriti, propriedade do agricultor Canísio Fróelich, a colheita está em um verdadeiro ‘anda e para’.
- Um quadro de 160 hectares nós temos máquinas para colher num dia. Nós estamos já colhendo cinco dias. Cada dia tira um pouquinho – completa.
Diante desse cenário, o agrônomo Volnei Leite mudou a rotina e intensificou as idas à lavoura. Ele checa a umidade do grão e dá o aval se terá ou não colheita.
- A cada meia hora ou uma hora a gente tá no campo para acompanhar. Muitas vezes, a gente está num local da fazenda e não está chovendo. Mas, em outro está. Então, a gente fica andando aí para procurar. A hora que um local tiver pronto, que der para colher, a gente larga a colheita – explica Leite.
O pessoal passa horas à espera da colheita.
- Espero de seis a sete horas. Às vezes, aguardar o tempo a decisão, ver se limpa para continuar a colheita – diz o operador de máquinas Amaro Souza de Oliveira.
As máquinas ficam encostadas até que o tempo abra e tenha pelo menos quatro horas de sol para a retomada dos trabalhos.
Em Primavera do Leste, há uma fábrica que moe três mil toneladas de soja por dia para produzir óleo de cozinha e farelo. Segundo o gerente Elvio Moro, muitos grãos chegam com a umidade acima do esperado.
- Vem mais água no produto e acaba demandando maior investimento de secagem das nossas estruturas, dos nossos equipamentos. É um produto de qualidade muito boa, o que tem ajudado bastante a nossa produção – diz.
O vaivém de chuva e sol já interferiu nos números da produção. O Instituto Mato-grossense deEconomia Agropecuária (IMEA) tem revisado para baixo os dados que indicam o andamento da safra. Mato Grosso não deve acompanhar o recorde previsto para a colheita de grãos do país.
- A safra começou com uma bela estimativa, mais uma safra recorde. O IMEA estimou entre setembro e outubro uma safra de 29 milhões de toneladas. Mas, logo em seguida dos nossos números a gente começou a ver problemas nas principais regiões produtoras do estado. Com essa revisão que a gente fez lá na semeadura e agora culminando nos 27,8 milhões de toneladas, a gente tem uma queda em relação ao ano passado. A primeira queda depois de seis anos de altas consecutivas no maior produtor de grãos do país – avalia Daniel Latorraca, superintendente do IMEA.
Até agora, a redução só não foi maior porque houve aumento na área plantada do estado, que chegou a quase 200 mil hectares.
O agricultor Luiz Bortolossi, que tem lavoura no município de Poxoréo, é um dos beneficiados com o clima. Ele plantou uma soja de ciclo mais longo e a chuva só tem ajudado a plantação. Devido a boa chuva dos últimos meses, já faz 90 dias que o produtor não liga a irrigação. Os 120 hectares de lavoura estão se desenvolvendo só a água que cai do céu.
O atraso na colheita da soja adia o plantio do algodão que será produzido na safrinha. No ano passado, os produtores de Mato Grosso já tinham semeado, nesta altura de fevereiro, 69% da área. Este ano, foram plantadas até agora apenas 55% das lavouras de algodão.
Fonte: Globo Rural