Um estudo publicado recentemente pela revista Science revela que o processo de polinização, no qual as abelhas e outros insetos atuam como agentes, é responsável por cerca de 24% do déficit de produtividade agrícola observado em pequenas propriedades rurais (até dois hectares). Fatores associados à irrigação, nutrientes e técnicas de cultivo também foram listados no levantamento e respondem pelos demais 76% do déficit nas áreas monitoradas.
Pesquisadores de 18 países, incluindo o Brasil, participaram da iniciativa, financiada pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Durante cinco anos (2010-2014), os especialistas monitoraram 334 propriedades pequenas e grandes de doze países da África, Ásia e América do Sul. Eles observaram o número de agentes polinizadores, a biodiversidade e o rendimento de 33 cultivos (maçã, pepino, caju, café, feijão, algodão e canola, entre outros). Uma mesma dinâmica foi identificada em todas as nações que participaram do levantamento: o rendimento agrícola cresce de acordo com a densidade de polinizadores. Esse resultado mostrou que populações reduzidas de abelhas e outros insetos poderiam ser parcialmente responsáveis pela queda de produtividade.
- O trabalho mostra o impacto positivo potencial na produção agrícola resultante do aumento de polinizadores nas culturas – explica Breno Freitas, da UFC, pesquisador responsável pelos dados da cultura do caju. Percebemos também que, em propriedades pequenas, a redução do déficit de polinizadores com aumento na produtividade pode ser alcançada apenas com o aumento da quantidade de polinizadores visitando as flores. Já nas grandes propriedades, além disso, é necessário ainda aumentar a diversidade de espécies de polinizadores nos cultivos – explica o pesquisador.
- Uma das principais contribuições desse estudo é a constatação de que é possível conciliar agricultura com conservação da biodiversidade e ter como resultado o aumento da produtividade agrícola. Nessa relação os dois lados saem ganhando. O estudo também abre uma janela de oportunidade de mudança para o novo paradigma da sustentabilidade, por meio da intensificação ecológica da agricultura – explica Blandina Viana, da UFBA, pesquisadora responsável pela cultura da maçã.
Neste contexto, os especialistas destacam o conceito de intensificação ecológica, ou seja, adotar medidas para promover a biodiversidade na agricultura com o intuito de oferecer melhores condições aos polinizadores, como por exemplo, o plantio a construção de cercas-vivas, a redução do uso de pesticidas e a recuperação das matas nativas próximas aos cultivos.
Sobre a A.B.E.L.H.A.
A Associação Brasileira de Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) é uma organização sem fins lucrativos, cuja principal missão é reunir, produzir e divulgar informações – com base científica e a colaboração de uma rede de parceiros – que visem à preservação das abelhas e outros polinizadores no Brasil, promovendo seu papel na biodiversidade e a convivência harmônica e sustentável com as diferentes culturas agrícolas.
Fonte: Associação Brasileira de Estudos das Abelhas