Depois de encerrar a colheita de soja e o plantio de milho safrinha, a semeadura do trigo segue a todo vapor nos campos do Paraná. Mesmo com uma redução de 3% na área plantada (para 1,35 milhão de hectares) a expectativa é de uma safra 7% maior, capaz de romper pela primeira vez a barreira de 4 milhões de toneladas. A expansão vai colocar a prova o mercado doméstico, que precisará administrar o excedente na produção para garantir sustentação aos preços.
Conforme estimativa da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o incremento na produção paranaense deve ser lastreado por um ganho de 10% na produtividade das lavouras em relação ao ano passado, chegando a 3 mil quilos por hectare (50 sacas/ha). Para o analista da Trigo & Farinhas Luiz Carlos Pacheco, mesmo que essa previsão não se concretize o estado terá que administrar um excesso de oferta.
- Se o resultado for igual ao da última safra (2.731 quilos por hectare) teremos uma colheita de 3,4 milhões de toneladas, o que representa um excedente de 800 mil toneladas – aponta ele.
O quadro deve ampliar a pressão sobre os preços do trigo, recorrente mesmo na entressafra. Em março o valor estadual médio da saca de 60 quilos foi R$ 31,21, abaixo do valor mínimo fixado pelo governo (R$ 33,45/sc).
Para Pacheco o quadro só não é pior porque o Rio Grande do Sul — segundo maior produtor nacional — deve reduzir em 20% a área plantada. Ainda assim o Paraná terá que direcionar parte do excedente aos moinhos do Nordeste. Isso tende a reforçar a necessidade de apoio estatal como no ano passado, quando o governo federal promoveu leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) para viabilizar o escoamento.
- Sem a realização dos leilões neste ano a conta não vai fechar – diz Pacheco.
Temendo essa desvalorização, alguns produtores seguem cautelosos. O agricultor Jurandir Lamb, de Cascavel (Oeste) decidiu retomar o cultivo de trigo após 5 anos, mas em apenas 10% dos 150 hectares da propriedade.
- O plantio não garante rentabilidade e o risco é grande. Às vezes a lavoura vai bem até o ponto de colheita, aí vem uma chuva e derruba a qualidade – reclama. Ele vai concentrar as apostas no milho safrinha, mas não descarta um retorno ao cereal do pão no futuro.
Para evitar uma desilusão geral com o cereal, as cooperativas apostam na industrialização para oferecer estímulo extra. Nos Campos Gerais, o trio Capal (Arapoti), Batavo (Carambeí) e Castrolanda (Castro) investiu em um novo moinho de trigo para garantir mercado. A estrutura foi inaugurada em junho do ano passado e já opera com 75% da capacidade total (120 mil toneladas processadas por dia).
- Isso vai dar maior liquidez à produção local, já que 95% do consumo será utilizando matéria-prima produzida pelos cooperados – avalia o gerente de Negócios da unidade, Estefano Stemmer.
Apenas 1% do total de 1,35 milhão de hectares que será cultivado com trigo neste inverno no Paraná já foi semeado, conforme a Seab. Mesmo se o estado colher safra recorde de 4 milhões de toneladas, o Brasil vai continuar dependendo de importações, já que a indústria nacional demanda cerca de 12 milhões de toneladas do grão por ano.
Fonte: Gazeta do Povo.