Os chineses começaram o ano com fortes indicadores de desaceleração na economia do país, seguidos por ações imediatas do governo. Especialistas ouvidos pelo DCI acreditam que este tremor não será suficiente para conter a crescente demanda por soja brasileira, mas reforça o movimento de baixa nos preços.
As notícias logo abalaram o mercado de commodities agrícolas e no Brasil os reflexos da China são ainda mais claros. Trata-se do país responsável por 76% das compras de soja em grão – produto mais relevante para a balança comercial do agronegócio nacional – entre os meses de janeiro e novembro de 2015, um avanço de 19% contra o mesmo período do ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) informou nesta semana que, no acumulado de 2015, os embarques da oleaginosa atingiram 54,32 milhões de toneladas, alta de 18,9% na variação anual. Em contrapartida, a receita de exportação somou US$ 20,98 bilhões, uma retração de 9,9%.
Nesta segunda-feira (4), o gigante asiático anunciou que sua atividade industrial encolheu em dezembro. Foi a décima retração consecutiva, segundo a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês). Ontem (5), o Banco Popular da China (PBoC) fez uma injeção de 130 bilhões de iuane (US$ 19,9 bilhões) para reduzir os problemas de falta de liquidez na economia.
- Apesar de um crescimento menor que o esperado, eles vão continuar demandando soja e milho – afirma a analista de mercado da INTL FCStone, Natália Orlovicin.
Ela explica que esse movimento de consumo da proteína tem sido disseminado por um aumento de renda na população e deve ser mantido. Porém,
- Vemos um balanço de oferta e demanda bem folgados nos estoques mundiais de soja, milho e trigo, principalmente, e a desaceleração da China pode aumentar essa folga – acrescenta, o que mantém os preços internacionais em patamares baixos.
Soma-se a isso o aumento na competitividade externa com a chegada de uma Argentina mais agressiva nos embarques de soja em grão, após a redução de tributações autorizadas pelo novo presidente, Maurício Macri.
Para atenuar os ânimos, a analista de mercado da consultoria AgRural, Daniele Siqueira, lembra que a demanda chinesa por soja vem crescendo desde o início dos anos 2000 e mesmo no ano passado, em que o país deu sinais de desaceleração, ela se manteve em ritmo frequente. Na mesma linha, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) declarou ontem que as exportações da oleaginosa do Brasil deverão atingir um novo recorde, de 57 milhões de toneladas neste ano, após a marca histórica obtida em 2015.
Outro setor que tem mantido fortes apostas na China é o de carnes. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, disse ao DCI que independente dos fatores internos dos chineses há uma queda na produção de frango, por exemplo, naquele país diante de um aumento no consumo.
- O supridor dessa demanda é o Brasil. Chegamos a quase 300 mil toneladas em 2015 e se conseguirmos as novas habilitações de plantas esperadas para este ano, podemos chegar a um embarque anual de 400 mil toneladas só para a China – estima o executivo.
Na lavoura
Com o grão em desenvolvimento na lavoura, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), maior produtor da oleaginosa no Brasil, informa que uma estiagem afetou principalmente as regiões leste e norte do estado, mesmo com a ocorrência de chuvas irregulares que vieram em dezembro. O diretor técnico da entidade, Nery Ribas, já fala em perdas na produção desta safra, apesar de ainda ser cedo para quantificá-las.
- O que observamos é que houve replantio. O agricultor precisa estar atento à sua lavoura e monitorar pragas e doenças – enfatiza.
Para a associação, a segunda safra de milho será impactada pelo atraso previsto na colheita de soja de pelo menos 30 dias. Já o analista da consultoria Safras & Mercados, Paulo Molinari, discorda e acredita em novos recordes nas lavouras de milho do Brasil.
Fonte: DCI