No primeiro semestre de 2016, o campo deve continuar sentindo os efeitos do fenômeno climático El Niño, que provoca chuvas acima da média na região Sul do país. Os prognósticos indicam que o atual El Niño _ causado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico _ pode ser tão forte quanto o de 1997/1998, um dos mais intensos já registrados. Seca no Nordeste e enchentes no Sul foram as consequências no Brasil, naquela época e se repetem hoje.
De acordo com o meteorologista Flávio Varone, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), a tendência é que fenômeno enfraqueça ao longo dos próximos meses, pois atingiu seu pico na primavera. Mesmo assim, o Rio Grande do Sul pode seguir registrando precipitações com volumes elevados. Conforme Varone, os eventos serão mais curtos _ o que significa menos dias consecutivos de chuva. A situação deve perdurar ao longo do primeiro semestre de 2016. Para o segundo, as projeções indicam, principalmente no inverno, período de neutralidade no Estado, o que pode finalmente colaborar com a safra de trigo, após perdas consecutivas nos últimos anos.
Apesar de ter provocado dificuldades na implantação das lavouras, o El Niño não é motivo de preocupação para as culturas de sequeiro, como milho e soja. Segundo o agrônomo da Emater Alencar Paulo Rugeri, no Rio Grande do Sul, tradicionalmente, é a falta _ e não o excesso de chuva _ que faz acender a luz amarela. Ele diz lembrar de apenas uma safra, a de 1983/1984, em que houve quebra na produção devido às intensas precipitações. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra gaúcha de grãos atingirá 30,2 milhões de toneladas, um recuo de 4,4% em relação ao ciclo anterior. A expectativa é de que esses números sejam revisados para cima nos próximos levantamentos.
- Nosso principal gargalo costuma ser a falta de água. Então, soja e milho devem ser beneficiados com as chuvas, que podem aumentar a produtividade dos grãos, mas isso também exigirá alguns cuidados extras com relação à presença de pragas e doenças – alerta o agrônomo, que orienta os produtores rurais a acompanharem a lavoura diariamente para evitar surpresas.
A redução na colheita do Rio Grande do Sul, principal Estado produtor, é estimada em 5,7%, de acordo com dados da Conab, e é atribuída ao grande atraso no plantio. Esse percentual, contudo, ainda pode aumentar. A Federação das Associações de Arrozeiros do Estado, calcula recuo de 15%, uma colheita de 7,3 milhões de toneladas do grão.
Falta de radiação solar afeta produtividade do arroz
Conforme Silvio Steinmetz, agrometeorologista da Embrapa Clima Temperado, o arroz é uma cultura das mais sensíveis aos reflexos do fenômeno climático. A principal preocupação, segundo Steinmetz, é quanto ao nível de radiação solar. Devido à previsão de um maior número de dias com chuva, o tempo encoberto pode afetar a produtividade e a qualidade do grão. As fases mais críticas do arroz _ a reprodutiva e a de maturação _ ocorrem entre os meses de dezembro e fevereiro.
- Além do déficit de radiação, outra preocupação é com as doenças fúngicas, como a brusone, em função da grande umidade – acrescenta o agrometeorologista da Embrapa.
Dicas
Consultar assistência técnica e serviços de previsão de clima para o planejamento, plantio, manejo e colheita.
Seguir o zoneamento agrícola e observar a indicação de cultivares, solos e épocas de semeadura.
Escalonar o plantio e utilizar cultivares de ciclos diferentes e densidade de plantas indicada para a cultura.
Dar preferência ao plantio direto na palha ou, não sendo possível, mobilizar o solo o mínimo necessário.
Descompactar o solo quando necessário e rotacionar culturas. Implantar as lavouras sob condições adequadas de umidade e temperatura do solo.
Prognóstico para o RS
Dezembro de 2015 a fevereiro de 2016
Devido ao El Niño, a previsão para o trimestre indica a permanência da chuva acima do padrão climatológico, especialmente na parte oeste do Rio Grande do Sul. Alerta para grandes volumes, especialmente na bacia do rio Uruguai.
Com o aumento da nebulosidade, também é esperada redução na amplitude térmica neste trimestre.
O prognóstico para as temperaturas mínimas indica para o mês de dezembro valores médios pouco acima do padrão no Norte e Nordeste e dentro do padrão nas demais regiões do Rio Grande do Sul. Para janeiro, a tendência é de temperaturas pouco abaixo no Sul e Oeste e dentro do padrão nas demais áreas. Em fevereiro, as temperaturas ficarão dentro do padrão climatológico em todo o Estado.
No trimestre, as temperaturas máximas deverão ficar um pouco abaixo do padrão climatológico, especialmente no Centro e Oeste do Estado.
Fonte: Zero Hora