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ATÉ UVA, PASSA

O Vale do Aconcágua possui o mesmo nome do monte mais alto das américas, que fica na Argentina, e tem quase sete mil metros de altura.

O vale é banhado pelas águas do rio Aconcágua e, por suas terras férteis, é um dos lugares mais importantes para a agricultura do Chile.  Fica a apenas 80 quilômetros da capital, Santiago.

Debaixo das parreiras carregadas, encontramos uma cena inusitada. Senhoras elegantes com bochechas rosadas pelo calor provando uvas e aprovando.

Elas vieram da Inglaterra pra conhecer as propriedades de onde saem as uvas que compram através de uma fundação de comércio justo.

- Nós compramos dessa empresa e vendemos. Eu vendo na cafeteria na minha igreja, eu vendo até para a França, através de catálogos – explica Sally Harrison, compradora.

Além da qualidade do produto, os ingleses têm outra exigência: que os chilenos sigam as regras do comércio justo.

- O mais importante, eu acredito, é que os trabalhadores  devem ser tratados com justiça e receber um salário justo que não garanta só a sobrevivência, mas dê um padrão de vida bom pra família – reforça Sally.

Foi graças ao interesse dos ingleses que pequenos agricultores chilenos decidiram se unir.

- Um cliente inglês procurou o governo chileno dizendo que precisava de passas. Surgiu então a ideia de unir as produções e fornecer para eles. Foi uma ideia muito nova porque os agricultores pequenos não se unem aqui no Chile. Não temos o espírito de associativismo –  explica Cristian Lepe- presidente da Mifruta.

Assim surgiu a Mifruta, uma associação que há sete anos reúne 28 agricultores. Juntos, eles cultivam 210 hectares de uvas.

Cristian Lepe é presidente da associação e um dos produtores. Ele tem sete hectares e meio em três áreas diferentes.

- O clima aqui é o ideal. Dizem que é um dos melhores do mundo para uvas. Temos muito calor no verão e o frio necessário no inverno.  De janeiro a março chove pouco. Assim não surgem fungos e as uvas chegam sadias à colheita – explica Lepe.

A colheita vai de janeiro a abril, dependendo da variedade e do clima. Durante nossa visita, era dia de colher a uva thompson.

- Primeiro tiramos a uva de mesa, para ser consumida fresca e o que vai ficando vai para uva passa, mas também são uvas boas, não são ruins. São bonitas. Só não cumprem o peso e o tamanho para exportação. Teria que ser um cacho maior, com 400 gramas. Mas é a mesma uva, da mesma qualidade – conta.

Do parreiral, as uvas vão para uma área onde são espalhadas sobre uma malha. Parece o café quando vai para o terreiro para secar. São uvas fora do padrão de tamanho, cor ou com algum defeito e que, ao serem processadas como uva passa, ganham em valor agregado.

Oitocentos mil quilos de uva são transformados em passas. Cristian Lepe explica que as uvas ficam na área de secagem por duas a três semanas, dependendo do calor.

- O cuidado principal é mexer para que a uva tome sol por todos os lados e seque completamente. É muito simples o sistema. E ecológico porque é seco com o sol. Ainda vale entre 20, 30% a mais que fresca – afirma.

Durante a secagem, a uva vai escurecendo, mesmo que seja de uma variedade clara. Enquanto alguns funcionários revolvem as uvas de um lado, do outro as frutas secas já são ensacadas.

- O teste para saber se está no ponto é manual. Você toca e vê que não tem mais suco. Então está pronta para recolher. Não precisa de máquina nenhuma. A variedade vermelha é mais vendida e tem mais valor – explica.

As uvas secas e ensacadas ainda são processadas, mas existe um outro jeito de fazer a secagem. Para que as uvas não escureçam e continuem clarinhas, amareladas, elas não podem ser secas ao sol. O processo é um pouco mais complicado. As uvas têm que passar por fornos.

Assim que chegam, elas são lavadas e recebem um produto que retira a oleosidade da casca. O encarregado do processo, Victor Tapia explica que isso permite que a fruta desidrate melhor.

- Depois desse processo elas vão para as bandejas plásticas, entram nas câmaras para receber o anidrido sulfuroso, uma substância para fixar a cor, e logo seguem para os fornos.  O anidrido não fica nas frutas, ele se evapora – explica.

O termômetro aponta a temperatura do forno: mais de 50 graus. Dependendo da temperatura do dia e do forno, o processo pode durar cerca de 90 horas.

Depois disso, tanto as uvas escuras quanto as claras seguem o mesmo caminho. São classificadas pelo tamanho, lavadas, centrifugadas e, depois, selecionadas. Passam pelo raio laser e raio X para detectar imperfeições. Ao lado vão caindo as uvas descartadas. Depois vem a seleção manual feita por mãos femininas e a embalagem.

A associação exporta para vários países, inclusive o Brasil. Uma rede de mercados em São Paulo, com 31 lojas, compra quatro toneladas ao mês.

A associação de agricultores chilenos, que no primeiro ano produzia 100 mil quilos de passas, hoje produz 200 mil. Ao se unirem, eles conquistaram mercado e renda extra, uma média de 27 mil reais ao ano por produtor.

Fonte: Globo Rural



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