O fenômeno climático El Niño segue como protagonista da safra brasileira de grãos. Após gerar atraso no Centro-Oeste por conta da falta de umidade e na região Sul em função do excesso de chuvas, agora castiga o Matopiba – nova fronteira agrícola que envolve Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Isso num momento em que estados como Paraná e Mato Grosso – que abriram a safra em meados de setembro – preparam a colheita, que deve começar na virada do ano, daqui duas semanas.
Três dos quatro estados do Matopiba estão com o plantio bastante abaixo da média histórica, o que pode comprometer a produtividade, principalmente na soja.
Os indicadores da semeadura na nova fronteira agrícola, que responde por 10% da oleaginosa produzida no país, estão com atrasos consideráveis. De acordo com boletim da consultoria França Junior, a pior situação está no Piauí, onde apenas 35% da área foram semeadas. Na mesma época do ano passado, o índice era de 75%.
Maranhão e Tocantins apresentam situações semelhantes. O plantio alcançou 48% e 58%, respectivamente, sendo que há um ano as máquinas já tinham coberto 88% e 90% da área nesta mesma época. Em situação mais confortável, mesmo que com atraso também, está a Bahia, onde 82% de uma área de 1,6 milhão de hectares já foram semeados – em dezembro passado era 92%.
- O plantio era para ter começado no início de novembro, mas tivemos que segurar 20 dias. Com as chuvas de forma irregulares, ninguém arriscou para não ter que fazer o replantio. Agora a chuva é essencial nas próximas três semanas para garantir o desenvolvimento das plantas – reitera Luiz Stahlke, assessor de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
A produtora Geisa Marcolin conta que 10% de uma área de cerca de mil hectares de soja foram semeados. Isso no Sul do Piauí, em Uruçuí. Nos últimos dois anos, produtores dessa região tiveram problemas climáticos, com falta de umidade e quebras localizadas de até 70%.
- Estamos esperando por mais chuva… Estão dando apenas pancadas localizadas – relata Geisa.
O drama vem sendo compartilhado na internet.
- A chuva ficou só em volta [da lavoura] – disse o produtor Gilberto Leandro Magerl, de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia.
Ele postou em sua página no Facebook fotos de máquinas trabalhando na poeira num dia em que as chuvas rondavam sua fazenda.
Demais estados
Nas demais regiões produtores de grãos do país, a semeadura está encerrada e/ou terá seu desfecho até o final desta semana. Em Mato Grosso do Sul e São Paulo, os trabalho já foram finalizados, enquanto no Paraná e Mato Grosso, maiores produtores de soja do Brasil, o índice de plantio está em 99%. Considerando o país, o plantio está em 92%, contra 97% de dezembro de 2014.
Agora, a expectativa dos produtores está em relação ao desenvolvimento das plantas, principalmente nos estados do Centro-Oeste, onde muita semente foi lançada no solo totalmente seco, praticamente na poeira.
Além disso, o El Niño desajustou o calendário agrícola nacional, o que fez o agronegócio de muitos estados rever os planos para o plantio do milho safrinha. Em roteiro pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, a equipe da Expedição Safra Gazeta do Povo contatou que muitos produtores irão reduzir a área do cereal em função da perda de parte da janela ideal para o plantio.
Fonte: Gazeta do Povo
Foto: Gilberto Leandro Magerl/Reprodução
