Brasília (11/12/2015) – “O Brasil é constantemente acusado de usar defensivos em excesso. Nessa questão, nós podemos fazer uma analogia trazendo para a sociedade o que temos hoje com a dengue, a zica e a chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Nunca se usou tantos repelentes no Brasil como agora, principalmente as mulheres grávidas, que exigem maior cuidado, em função da gente precisar combater o mosquito que pode transmitir doenças perigosas para população”. A explicação foi feita pelo Superintendente Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, durante coletiva nesta quinta-feira, em Brasília.
“No caso das plantas é a mesma coisa. O agroquímico é um produto que funciona como um repelente. Ele é usado para espantar pragas e controlar doenças específicas para que essa planta possa se desenvolver em condições normais, sem perda de qualidade, sem quebra de produtividade”, esclareceu Bruno Lucchi.
Segundo ele, assim como acontece na cidade onde as pessoas precisam de informação para evitar e combater doenças com dosagem certa de remédios, os agricultores também devem ser melhor orientados sobre o uso de agroquímicos. “Por isso, a CNA e SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) defendem a ampliação do número de produtores atendidos por assistência técnica para que haja utilização correta dos agroquímicos nas lavouras brasileiras, evitando riscos para a saúde.”
No Mercosul, os agroquímicos são chamados de produtos fitossanitários e na União Europeia produtos fitofarmacêuticos. “Agrotóxico, como chamamos no Brasil, é remédio contra doenças e pragas, quem usa precisa seguir a risca as orientações. É como qualquer remédio controlado, se não for tomado conforme a orientação do médico, o paciente pode ter efeitos colaterais e seu problema agravado” argumenta o Superintendente Técnico da CNA.
Quem produz alimentos também precisa da ajuda de um técnico, de um agrônomo. “A assistência técnica é fundamental para que o agricultor aplique a dose correta dos produtos contra pragas e doenças e utilize de forma correta os EPIs. De modo geral, quem orienta o uso são os vendedores e as indústrias” justifica Bruno Lucchi.
Com a extinção da Embrater no governo Collor, os Estados reduziram seus serviços de assistência técnica. Hoje, somente 9% dos produtores rurais recebem regularmente assistência técnica, conta o Secretário Executivo do SENAR, Daniel Carrara.
“O SENAR criou uma metodologia de assistência técnica que alia adequação tecnológica e consultoria gerencial das propriedades rurais. “Dezenove Administrações Regionais do SENAR desenvolvem ações de Assistência Técnica em 32.605 propriedades rurais, oferecendo consultoria técnica e gerencial, de forma efetiva e constante” informa.
Eficiência comprovada
A Assistência Técnica e Gerencial oferece ferramentas que ajudam na tomada de decisão do agricultor, como o uso correto de agroquímicos. Um exemplo é o programa Do Rural à Mesa, parceria do SENAR com o Senac. Um grupo de produtores rurais de Alexânia (GO) recebe Assistência Técnica e Gerencial do SENAR, capacitação profissional e certificação de qualidade dos produtos. O Senac compra os alimentos produzidos e utiliza nas refeições preparadas nos restaurantes-escola que mantém em Brasília.
Depois que os produtores passaram a receber a consultoria do SENAR, houve uma redução significativa no uso de defensivos. Segundo o Secretário Executivo da entidade, os técnicos de campo orientam sobre tudo: escolha correta da semente, adubação adequada, manejo da água, monitoramento de pragas e doenças e treinam os agricultores quando a pulverização é realmente necessária. Na capacitação, informações sobre a importância do uso de EPI, a correta utilização dos agroquímicos, período de carência do produto que deve ser respeitado e a devolução da embalagem vazia do defensivo. “O diferencial da nossa assistência técnica é que o agricultor registra tudo numa ferramenta simples que criamos – o Caderno do Produtor, o que possibilita a ele um gerenciamento eficaz e sustentável da propriedade”, destaca.
É o que vem acontecendo com o agricultor Márcio Pereira Martins, que participa do programa Do Rural à Mesa. Com tudo anotado no Caderno do Produtor, ele comemora a redução de 70% nos custos com defensivos no cultivo de tomate salada e pimentão e um aumento de 30% na produtividade. “Antes de receber a ajuda da equipe do SENAR, eu combatia as pragas e doenças assim meio sem muita orientação. A informação que eu tinha era do vendedor do produto. Hoje uso na dose certa e tomando todos os cuidados”, conta Márcio.
“Como qualquer brasileiro, os agricultores também querem que o Brasil continue a ser um grande produtor de alimentos saudáveis, e não teriam problema nenhum em produzir sem agrotóxicos, pelo contrário. Mas, para que isso ocorra, a ciência deve apresentar tecnologias que permitam produzir de modo competitivo sem utilizar agrotóxicos e aí, entra mais uma vez a assistência técnica para orientar quem produz”, destaca o Superintendente técnico da CNA.
Para Bruno Lucchi, caso esta seja realmente a decisão do governo, a sociedade brasileira deve ser comunicada de forma clara e transparente, sobre o planejamento e o custo que terá uma medida dessa natureza, que seria inédita no mundo.
“Enquanto isso não acontece, o uso correto de agroquímicos é a única saída para o produtor. Temos um clima tropical que propicia o aparecimento de pragas e doenças e, sem o uso de esses medicamentos, a produtividade cai, o preço dos alimentos para a população poderá subir e será necessário abrir mais áreas de produção. Pela relevância da agricultura para a sociedade brasileira, para a nossa economia, precisamos, portanto, de políticas de governo coesas sobre o uso de agroquímicos como insumo para o cultivo, baseadas na ciência” encerra Bruno Lucchi.
Capilaridade e experiência
Daniel Carrara, Secretário Executivo do SENAR Brasil
SENAR está presente em todos os Estados e há 23 anos leva cursos de formação profissional e ações de promoção social ao campo gratuitamente. Um dos cursos mais demandados é sobre Aplicação de Agrotóxicos, que orienta produtores e trabalhadores rurais sobre os cuidados com uso desses medicamentos de plantas, equipamentos de proteção e a correta utilização. Entre 2011 e 2014, 257 mil brasileiros fizeram o curso. Os dados de 2015 ainda não estão fechados, mas a média dos anos anteriores deve se repetir, com a capacitação de mais de 60 mil agricultores. “Para 2016, pretendemos atender mais 78 mil profissionais do campo e podemos duplicar essa meta se conseguirmos ampliar o atendimento com assistência técnica”, prevê Daniel Carrara.
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Fotos: Wenderson Araújo e Gustavo Fröner
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Fonte: Canal do Produtor