O grande problema desta safra se refere ao período de plantio, que pelo segundo ano consecutivo enfrenta atrasos em função das condições climáticas desfavoráveis.
Em Mato Grosso e Goiás, as chuvas irregulares e mal distribuídas entre outubro e novembro provocaram atraso no plantio da lavoura de soja. Nesses Estados, as condições de plantio em novembro variaram muito de uma região para outra, alternando propriedades com plantio avançado e outras com máquinas paradas por causa da falta de chuva.
Mas, até o final de novembro, o plantio, em geral, estava bem abaixo da média em relação aos anos anteriores. Porém, com a aproximação do verão, é natural ocorrer a regularização das chuvas, o que permite a finalização do plantio.
No caso da soja, o atraso no plantio não chega a comprometer as condições de produção. O problema desse atraso diz respeito mais à composição do calendário de semeadura da lavoura do milho safrinha (segunda safra).
A expectativa para o decorrer do verão no Centro-Oeste é manter um padrão de chuvas irregulares e, em geral, abaixo da média. A presença do El Niño diminui o risco de períodos chuvosos extremos e duradouros, conhecidos como “invernadas”. Além disso, em anos de El Niño, as chuvas cortam mais cedo, com forte redução a partir de março.
Condições semelhantes de atraso no plantio por falta de chuva também são observadas nas áreas produtoras demilho, soja e algodão no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Para essa região, as condições ideais de plantio devem ocorrer somente em dezembro. Daí para diante, os produtores devem conviver com os riscos associados à má distribuição das chuvas, alternando períodos chuvosos com períodos totalmente secos, a exemplo do que já se observou nas duas últimas safras, só que com menor intensidade.
Já no Paraná e em Mato Grosso do Sul, o plantio das lavouras de verão (soja e milho) está avançado, beneficiado pelas boas chuvas observadas desde a primavera. Essas lavouras são diretamente beneficiadas pela presença do El Niño, que contribui para reduzir o risco de estiagem durante os meses de verão.
Já as lavouras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina enfrentam um problema oposto aos demais Estados, onde o atraso no plantio se dá pelo excesso de chuva.
Aqui também tem o “dedo” do El Niño, que fortalece o regime pluviométrico da região, cujo padrão de chuvas acima da média deve se manter ao longo do verão.
O sudeste do Brasil vive um período de transição, com o retorno gradual das chuvas em novembro.
O centro-norte de Minas Gerais e o Espírito Santo ainda sofrem com os efeitos de uma longa seca, enquanto que em São Paulo e no sul de Minas Gerais as chuvas de outubro e novembro ajudaram na recuperação hídrica do solo, inclusive passando a apresentar resultados positivos de balanço hídrico, embora ainda sem recuperar totalmente o nível de armazenamento de água do solo.
A tendência para o verão é manter um padrão de chuvas típico da estação, apenas com muita irregularidade e risco de períodos mais secos e quentes no norte de Minas Gerais e no Espírito Santo.
Verão terá excesso de precipitação no Sul
O verão, que começa em dezembro e se estende até março, é conhecido como a estação das águas na maior parte do Brasil. Por isso é um período que normalmente desperta muito a atenção, pois é quando o país cultiva a principal safra de grãos e, além disso, em regra, os reservatórios enchem.
Neste ano, as expectativas em relação ao verão 2017 aumentam ainda mais, tendo em vista os problemas que se apresentam já no início da estação em relação a atrasos no plantio das lavouras de verão, as condições críticas dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas e a crise no abastecimento de água no Sudeste e no Nordeste do Brasil.
O episódio do El Niño deste ano é classificado pelos institutos de meteorologia internacionais como de forte intensidade.
Para o Brasil, os principais efeitos estão associados a períodos mais chuvosos no Sul e períodos secos no Nordeste, principalmente nas regiões do Sertão e do Agreste, enquanto para o Sudeste e o Centro-Oeste o verão com El Niño apresenta chuvas irregulares e temperaturas mais elevadas. Já no Norte do país, há uma redução das chuvas na parte leste, incluindo os Estados do Pará e do Tocantins, enquanto as chuvas no verão se concentram mais sobre o oeste da Amazônia, com risco de neste verão se repetirem as enchentes observadas nos últimos dois anos no Acre e em Rondônia.
Fonte: Globo Rural