A área cultivada com trigo diminuiu significativamente na região de Campos Novos nesta safra, de 9 mil para 7 mil hectares, porém, a maior perda neste ano é de produtividade e qualidade do cereal.
De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, atualizados com técnicos de cooperativas de Campos Novos no dia 16 de novembro, a produtividade média da região deve fechar em 40 sacos/ha, contra 60 sacos/ha colhidos na safra de 2014. A queda de 20 sacos/ha tem interferência direta do clima. Atrasos no plantio devido às chuvas, ausência de geadas no cedo e geadas tardias, prejudicaram o desenvolvimento da cultura, que contou ainda com doenças e pragas nas lavouras, diminuindo a qualidade do produto.
De acordo com o Engenheiro Agrônomo Helan Paulo Paganini, da Cooperativa Agropecuária Camponovense – Coocam, estes fatores, somados às precipitações climáticas neste momento de colheita, prejudicam muito a qualidade do trigo.
- Tivemos vários problemas na safra de inverno e essa chuva na colheita do trigo do cedo, pode prejudicar ainda mais a qualidade do cereal, com possíveis danos de germinação na espiga e apodrecimento do grão do trigo – comentou Helan.
Estima-se que 20% da área total de trigo já tenha sido colhida na região de Campos Novos, porém, a qualidade é péssima.
- Com os investimentos realizados, o objetivo era colher trigo tipo pão, melhorador e para sementes, porém, estamos recebendo um trigo tipo 3, que deve ser encaminhado para produção de rações. Com qualidade péssima, também diminuiremos a produção de sementes de trigo. Na Coocam tínhamos uma expectativa de produzir 70 mil sacos de sementes, mas teremos uma produção muito menor nesta safra – comentou ainda Helan.
Mercado exige qualidade, porém, paga menos pelo produto nacional.
Se no campo o trigo tem baixa qualidade e pouca produtividade, no mercado financeiro, as preocupações são ainda maiores, porém, há uma luz no fim do silo.
De acordo com o Gerente Comercial da Coocam, Ricardo Bresola, o trigo de hoje não tem preço bom por fatores relacionados à qualidade do produto. Além disso, há o custo alto da lavoura e uma desvalorização do produto.
- O produto com qualidade boa pode valer a pena, mas o que vemos hoje é que o país importa 50% do produto que consome e não existem políticas de valorização do nosso trigo, além de uma burocracia muito grande quando se vai vender pro governo, por exemplo – destacou.
Para se ter uma ideia, o trigo tipo 1 estava sendo comercializado no dia 17 de novembro, a R$ 36,00. Já o custo de produção de um hectare de trigo pode chegar a R$ 2 mil.
- O momento é de incógnita, porque nosso trigo é de qualidade ruim e não foram apenas aqui os problemas. O Rio Grande do Sul e parte do Paraná também colheram um trigo ruim, mas no Rio Grande do Sul, o trigo foi exportado e essa pode ter sido uma boa saída, mas para fazer isso é preciso ter volume – explicou Ricardo Bresola.
Quanto às vendas, o gerente comercial da Coocam é otimista.
- Vejo um mercado altista para o trigo, desde que se tenha qualidade. Com a abertura de mercado para exportar o produto, abrem-se portas, mas hoje a qualidade é o diferencial – concluiu.
O produtor de trigo e presidente da Coocam, João Carlos Di Domênico, lembrou que hoje, se paga menos pelo trigo nacional do que pelo importado.
- Temos uma diferença de até 40% no valor pago pelo trigo Argentino, por exemplo, em relação ao do Brasil. Hoje, plantar trigo não vale a pena, aliás, as culturas de inverno não dão retorno ao produtor. O trigo é uma cultura ingrata, o governo não se mobiliza e os moinhos pagam mais ao produto importado do que o produzido aqui, falando que nosso trigo é ruim, mas ano passado, por exemplo, o trigo foi de primeira, mas a remuneração não foi boa – destacou João Carlos.
Um ano atípico
O triticultor João Carlos Di Domênico, iniciou a colheita do trigo no dia 16 de novembro, porém, já na primeira lavoura, de mais de 200 hectares, de um total plantado de 450/ha, contra 550/ha na safra passada, os indícios de queda de produção são visíveis.
- Na safra passada, colhemos de média 66 sacos/ha. Neste ano, se fecharmos em 45 sacos/ha está bom. Tivemos um ano atípico às culturas de inverno e em 60 dias, acredito que tivemos 10 somente de sol. E isso está criando uma situação muito difícil – relatou.
Para João Carlos, fomentar a produção de trigo é fundamental no país.
- O trigo precisava de um fomento porque só não extinguiu ainda porque não temos outra opção no inverno. Temos problemas pra produzir canola e cevada que são ainda mais sensíveis ao clima, aveias também sofrem com o clima e tem uma série de dificuldades. Nós temos que lutar para que as autoridades se sensibilizem para isso, principalmente no quesito mercado. Se tivéssemos um mercado mais justo, o risco seria diluído – enfatizou.
O produtor destaca que neste ano, o Brasil deve importar 6 milhões de toneladas de trigo, porém, se tivessem políticas públicas que elevassem o preço do produto brasileiro, o país poderia inclusive, ser autossuficiente em trigo.
Com a interferência de clima, os tratamentos fúngicos da cultura do trigo elevaram ainda mais o custo de produção.
- Nós tivemos a presença de doenças como giberela e manchas foliares, além de pragas que obrigaram a fazer quatro tratamentos nas áreas, sendo que em ano normal, se faz três, e isso encarece o processo. Nosso objetivo hoje é vender trigo para ração, porque o milho está caro, e assim, poder cobrir custos – finalizou João Carlos Di Domênico.
Fonte: Jornal Celeiro