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VENDA FUTURA ESTIMULADA

Embalada principalmente pela disparada do dólar, a venda futura da safra de soja caminha para bater recordes no país. Os negócios antecipados acompanham o ritmo da moeda americana, que em setembro ultrapassou a máxima histórica e ficou acima dos R$ 4.

De acordo com estatísticas da consultoria AgRural, os produtores brasileiros haviam negociado, até outubro, 41% do que deve ser colhido durante o ciclo 2015/2016, quase o dobro do que foi comercializado antecipadamente no mesmo período do ano passado.

No Rio Grande do Sul, conforme a consultoria, esse índice alcançou 28% no mês passado, contra 11% em outubro de 2014. Segundo o analista de mercado Adriano Gomes, da AgRural, a média do Estado nos últimos cinco anos é de 22%.

— Mesmo com a bolsa de Chicago trabalhando com um preço inferior a US$ 9 pelo bushel, o que é considerado um nível baixo, a alta do dólar conseguiu deixar o preço da saca atrativo em reais. Então, o ritmo de venda está bem adiantado. O produtor faz a conta e acha que essa é uma boa oportunidade para comercializar — afirma Gomes.

O primeiro levantamento da safra de grãos 2015/2016, divulgado pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) no mês passado, indica que a safra da oleaginosa, pela primeira vez, deverá passar das cem milhões de toneladas no país, podendo chegar a 101,9 milhões, 5,9% a mais do que em 2014/2015.

Já as projeções da Conab para o Rio Grande do Sul indicam produção de até 14,5 milhões de toneladas — 3,8% a menos do que o volume colhido no ciclo anterior, apesar de a área cultivada avançar até 2,5% sobre lavouras de milho e áreas de campos nativos e pastagens, atingindo 5,3 milhões de hectares.

Outro fator que estimulou os agricultores a buscarem a venda antecipada foi a dificuldade que muitos encontraram para acessar recursos do Plano Safra, avalia o consultor em agronegócio Carlos Cogo. A escassez de verba para custeio das lavouras, segundo ele, ainda levou alguns produtores a trocarem sacas de soja por insumos — alternativa conhecida como barter — para antecipar recursos.

Apesar da alta nos custos e do recuo nas cotações da soja na bolsa de Chicago, a expectativa é de que a safra de soja tenha boa rentabilidade. Mas isso só vai ocorrer se o clima colaborar. Devido ao fenômeno El Niño, há risco de excesso de umidade.

— As lavouras foram implantadas com o dólar cotado, em média, a R$ 3,20, e as vendas futuras, a R$ 3,80, com picos de R$ 4,10. Se for olhar só custo, câmbio e contratos futuros, já dá para dizer que rentabilidade está garantida, desde que se tenha boa colheita — projeta Cogo.

Economista da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz conta que a entidade tem aconselhado os produtores, desde o início do ano, a vender antecipadamente parte da safra. Ele alerta, no entanto, que é preciso ter cautela na hora de negociar:

— É um ano para se arriscar menos. A gente está vivendo em um ambiente de muita incerteza e instabilidade. Temos uma boa possibilidade, mas não garantia de renda. A regra, então, é jogar de maneira mais defensiva.

Sojicultor em Carazinho, no norte do Estado, Leomar Luis Tombini, 58 anos, aproveitou a disparada do dólar ante o real e ampliou em cinco pontos percentuais a venda futura do grão neste ano. O agricultor, que cultiva 3 mil hectares, já negociou antecipadamente 25% do que espera colher no ano que vem.

— Aproveitei a oportunidade, assim como muitos produtores aqui da região, para cobrir os custos de produção, que aumentaram 30% nesta safra — conta.

A área da lavoura de soja de Tombini aumentou 20% neste ciclo, pois o agricultor deixou de plantar milho em função do baixo preço pago pelo grão na época em que planejou a safra. Apesar dos altos custos, o produtor investiu no preparo do solo e espera ampliar a produtividade da oleaginosa em cerca de 10%.

Na contramão da euforia provocada pela taxa de câmbio, entretanto, há alguns produtores que resolveram pisar no freio e aguardar para vender a safra. Foi o caso de Antoli Fauth Mello, 72 anos, de Coxilha, também no norte do Estado. Na safra passada, ele havia negociado 30% do que esperava colher, mas, neste ano, fez apenas operações de barter para garantir a aquisição de fertilizantes.

— Achei que não era o momento de fazer (venda futura), por causa, principalmente, do preço baixo em Chicago e por acreditar que a tendência é subir a cotação do real perante o dólar. Ao meu ver, este não é um ano de muitos negócios futuros devido à instabilidade — explica Mello, que cultiva 450 hectares e espera colher pelo menos 70 sacas por hectare na propriedade.

Confiança no clima e maior monitoramento

Na avaliação do assistente técnico estadual da Emater Alencar Rugeri, as primeiras projeções sobre a produção gaúcha de soja no ciclo 2015/2016 são conservadoras, e os números devem ser revisados para cima nos próximos levantamentos.

Segundo Rugeri, a expectativa em ano de El Niño costuma ser de boa produtividade em culturas de sequeiro, já que as quebras de safra normalmente ocorrem devido à falta de água. Ele diz que lembra de apenas uma colheita, em 1983, prejudicada pelo excesso de chuva.

Mais otimista do que o da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o primeiro levantamento Emater, divulgado em agosto, indica produção de 15,2 milhões de toneladas no

Estado. Ainda assim, menor do que na safra passada, que foi de 15,7 milhões. Para garantir a colheita, conforme Rugeri, os agricultores precisam estar atentos à incidência de doenças como a ferrugem, provocada pelo excesso de umidade. A dica é monitorar a lavoura e acompanhar de perto o desenvolvimento.

No ciclo 2015/2016, a Emater irá realizar um trabalho de monitoramento de lavouras em conjunto com a Embrapa. Propriedades em 52 municípios serão visitadas periodicamente pelos técnicos com o objetivo de identificar e barrar o avanço de pragas e doenças. As informações sobre as visitas serão disponibilizadas semanalmente no informativo conjuntural da Emater.

Três dicas para negociar

É aconselhável que o produtor não venda antecipadamente mais de 40% do que espera colher, pois um evento climático inesperado, como a falta de chuva, pode provocar quebra de produção.

O ideal é que a venda antecipada cubra pelo menos os custos de implantação da lavoura e que o agricultor faça a comercialização a conta-gotas, no decorrer da safra.

Outra recomendação é que o produtor opte por fazer a venda futura com empresas e cooperativas sólidas, por meio de contratos conferidos até nas “letras miúdas”.

Fonte: Zero Hora



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