Com a produção a céu aberto, a agricultura convive com risco iminente a cada variação climática extrema. Ao investir nas lavouras, a única garantia que o produtor tem é o seguro agrícola, que no Brasil ainda está longe de assegurar a renda dos agricultores.
— O seguro que temos hoje não paga nem os custos totais de produção. Estamos engatinhando nesse processo ainda — avalia o agrônomo Elmar Konrad, presidente da Comissão de Crédito Rural da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Nas culturas de trigo, soja e milho, explica Konrad, os produtores normalmente financiam o equivalente a 70% dos custos de produção — cobertos pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) ou por seguro agrícola oferecido por bancos ou particulares. Ao colher 25 sacas de trigo por hectare em uma área de quase cem hectares em Ijuí, no noroeste do Estado, Cristiano Schreiber já solicitou cobertura do Proagro. O seguro irá cobrir os custos de 70% da lavoura, o máximo que conseguiu financiar no banco.
— Para o restante, busquei crédito em empresas de agroquímicos, que me deram prazo até 25 de novembro para pagar — explica Schreiber que, com a colheita frustrada, planeja vender um pulverizador ou um trator antigo da propriedade para evitar ter de pagar juro no mercado.
Produtor de tabaco em Venâncio Aires, Blásio Renaldo Lehmen, 64 anos, também já começou a calcular o prejuízo que terá nesta safra. Isso porque a produção de fumo é coberta por seguro apenas em caso de granizo e vendavais. Mas, desta vez, os maiores danos na propriedade foram causados por afogamento das plantas, que ficaram amareladas ou não conseguiram se desenvolver.
— Nos dias da chuvarada, tentei dar vazão na lavoura abrindo valetas, mas não consegui. Era muita água — lembra Clair Terezinha Lehmen, 58 anos.
Com propriedade na Vila Arlindo, no interior do município, o casal estima que a produção em 2,5 hectares terá uma redução de quase 40%. O seguro da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), porém, irá cobrir somente os danos causados pelo granizo, que correspondem a menos de 10% da produção.
Presidente da Afubra, Benício Werner explica que os recursos para o seguro vêm de um fundo mantido pelos associados, que têm a opção de aderir à garantia.
— Todos os produtores pagam o mesmo valor do seguro. Seria complicado incluir cobertura para alagamento, já que muitas áreas são altas e não têm esse risco — justifica Werner.
Modelo dos EUA como inspiração
A busca por um seguro de renda é uma luta antiga dos produtores rurais brasileiros. A procura é por um modelo semelhante ao dos Estados Unidos, onde a rentabilidade do produtor é garantida mesmo em anos de condições climáticas adversas. A cobertura vem do desembolso anual superior a US$ 12 bilhões do governo americano.
— É outra realidade econômica. Lá, o governo cria as regras e as seguradoras atuam juntas em parcerias público-privadas. Aqui, não temos nem aporte suficiente para subvenção ao prêmio do seguro — critica Elmar Konrad, presidente da Comissão de Crédito Rural da Farsul.
O benefício, concedido pelo governo para tornar o seguro mais acessível ao produtor, foi reduzido quase pela metade neste ano, conforme Konrad, ficando em R$ 350 milhões.
Fonte: Zero Hora