CHUVA CRUEL

Motivados pelos ótimos resultados da última safra de trigo – em 2013 a produção foi recorde de 3,3 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul – os produtores gaúchos não hesitaram em investir neste ano: a área plantada alcançou 1,14 milhão de hectares, representando um aumento de 9,8%, conforme levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a chuvarada levou embora todo o otimismo do setor e derrubou a produtividade e a qualidade do cereal. O agricultor de Ibirubá, Norberto Olavo Schneider, comprova essa tendência. Depois de obter 66 sacas por hectare de rendimento médio em 2013, decidiu aumentar a área em 20 hectares, mas viu a chuva deixar o PH (peso hectolitro) do trigo inferior a 75 e a produtividade cair para 15 sacas/ha.

– Colhi bem no ano passado e plantei mais, agora este ano estamos aí fazendo Proagro (Programa de Garantia da Atividade Agropecuária) – revela Norberto.

Foi tanta chuva neste ano que o produtor rural Darcisio Schumacher sabe de cabeça as precipitações pluviométricas que assolaram a principal cultura de inverno do Estado: na lavoura dele, em Alfredo Brenner, no interior de Ibirubá, foram 429 milímetros em agosto, 500 milímetros em setembro e 250 milímetros em outubro.

– Na década de 60 chegou a chover tanto que nem entramos com a máquina para colher, mas agora investimos em tecnologia e colhemos menos da metade do ano passado – recorda o agricultor que obteve 30 sacas por hectare, nesta safra, contra 70 sacas/ha, em 2013.

– O tempo não ajudou, teve pouco sol e muita chuva, até uma espécie de chuva preta, tipo um gás que se formou no ar. No final do ciclo da cultura entrou a Giberela (fungo que produz micotoxinas e, conforme o nível de contaminação, alguns lotes não servem nem para ração) e essa tal de Brusone – acrescenta Norberto, citando a doença que é nova para os triticultores do Rio Grande do Sul, mas comum nas áreas do Norte do Paraná e do Brasil Central. A umidade sucessiva (a partir de três dias de chuvas) e o clima quente favorecem o aparecimento do fungo.

O engenheiro agrônomo do Grupo Uggeri, Elson José Uggeri, explica que durante a fase de florescimento, a Brusone ataca a espiga e interrompe a circulação de nutrientes. A partir do ponto onde o fungo ataca a espiga, dalí  para cima, o grão fica mal formado (miúdo e de baixo peso) ou nem se forma.

O excesso de umidade trouxe outra consequência: diferente da qualidade obtida com o trigo da colheita passada, neste ano, são poucas as cargas que chegam nos cerealistas com PH para panificação, acima de PH 78. Darcizio admite que o PH caiu de PH 82, no ano passado, para PH 71. E a situação é tão ruim que até cargas destinadas à fabricação de ração estão sendo rejeitadas ao chegar no porto, devido ao percentual de micotoxinas – substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos.

– Não há dúvida da queda na produtividade, mas a maior preocupação é com a qualidade, porque houve problemas – avalia o engenheiro agrônomo da Emater, Odilon Soares da Costa.

Segundo estimativa da Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (ACERGS), em torno de 50% do cereal colhido nas lavouras do Estado não estão apresentando qualidade, ou seja, grão acima do PH 78. Com base nessa projeção, nem 1 milhão de toneladas terão a qualidade exigida pelos moinhos.

– O agricultor corre muitos riscos. O Governo Federal deveria garantir um seguro mais amplo que cobrisse todas as despesas dos produtores – avalia o presidente da ACERGS, Dilermando Rostirolla.

– Foi um ano péssimo, porque não deu produção e não tem preço – define o agricultor, Rafael Schumacher, filho de Darcisio que comercializou o trigo na época da colheita, em 2013, por R$ 40/saca e nesta colheita o valor está em R$ 25/saca para o trigo PH 78.



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