O preço do feijão no mercado interno tem sofrido forte alta. Desde janeiro, a saca de 60 quilos aumentou 260% e chegou a R$ 550 em São Paulo. O valor é mais alto que o de uma saca de café arábica de boa qualidade, que chega a R$ 525 em locais de importante produção, como a Zona da Mata mineira.
Os dados são do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), entidade que representa a cadeia produtiva do grão. Em algumas regiões do Brasil, o quilo do feijão chega a R$ 20 no varejo, situação que virou até assunto para os populares memes que circulam na internet.
Segundo Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe, o que está sendo repassado ao consumidor final é a soma de vários fatores que deixaram a situação “caótica”. Tudo começou com a menor área plantada na primeira safra de 2016, quando o produtor escolheu plantar soja e milho, que remuneram melhor. A diminuição do preço mínimo por parte do governo federal também influenciou negativamente a cultura.
Lüders avalia que o governo também se ausentou ao não formar estoque preventivo nem adotar estratégias para enfrentar o El Nino intenso. O fenômeno climático causou quebra da safra nas áreas produtoras com excesso de chuva na região Sul, como no Paraná, principal produtor; e no Nordeste, com estiagem severa.
- Mesmo sabendo disso com seis meses de antecedência, o Ministério da Agricultura não adotou nenhuma estratégia para melhorar o estoque e incentivar o produtor a sobreviver aos efeitos do El Niño – conta.
Enquanto isso, a demanda pelo grão cresce.
- Arroz com feijão deixou de ser comida de pobre para ser comida de brasileiro. Ou seja, o Brasil tem consumido cada vez mais feijão per capita. E, mesmo na crise, com o feijão mais caro, o brasileiro faz a conta e percebe que o grão rende mais, nutre mais que um lanche, uma pizza, e outras opções. Ele prefere investir em uma concha de feijão – diz o executivo.
Para este ano, o governo federal estima o consumo em 3,35 milhões de toneladas, já contabilizando a importação. A produção de 2016 está estimada em 2,8 milhões de toneladas, gerando um déficit de 550 mil toneladas. Os estoques públicos estão em 1.111.489 toneladas, o que, segundo Lüders, não atenderia nem a 15 dias de consumo.
Diante disso, pelo menos até o início de 2017, a situação atual não deve ter mudanças. Os preços devem se manter em níveis elevados com a oferta relativamente baixa e a demanda firme. Segundo Marcelo Lüders, a terceira safra deve ter área reduzida após a intensificação de contratos dos produtores com as sementeiras de milho.
Há também a redução de recursos hídricos em regiões importantes, como Mato Grosso, onde açudes e reservatórios estão secos e podem inviabilizar a irrigação durante os três meses do ciclo da cultura. As sementes de feijão estão mais caras para o produtor, há o ataque de pragas como a mosca branca, que atinge interior de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; e a geada no interior de São Paulo, neste fim de semana, que danificou plantas em desenvolvimento.
- Quem for plantar tem que considerar que está caro, pois também aumentaram os custos de eletricidade, de semente, de produtos para defender a lavoura. A situação até a semana passada era trágica, e agora está gravíssima. Só notícia ruim atrás da outra – alerta Lüders. – A demanda está muito alta e os estoques continuarão baixos. Quem plantar e colher feijão com certeza terá para quem vender – diz.
Fonte: Revista Globo Rural